Ato do dia 08 de março em Curitiba

Na Copa de 1958, conta a história que, antes do jogo com a URSS, vencido pelo Brasil por 2×0, o treinador Vicente Feola fazia sua preleção, incentivando os jogadores até que olhou para o ponta-direita Garrincha, o anjo das pernas tortas, onde se prosseguiu o seguinte diálogo:

– Garrincha, é o seguinte: você pega a bola e dribla o primeiro beque. Quando chegar o segundo, você dribla também. Aí vai até a linha de fundo, cruza forte para trás, para o Vavá marcar (o gol)”.

Garrincha, calado, assustado com as instruções, falou:

– Tudo bem, Feola, mas o senhor já combinou com os russos?

Desde então, a expressão “faltou combinar com os russos” é usada quando algo que parecia combinado não acontece. É, com certeza, um bom ensinamento para a política, visto que muitas vezes as organizações e/ou movimentos programam ações sem prever o que o “outro lado da história” possa fazer.

Em Curitiba, na última sexta-feira, 08 de março, no Ato do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, tivemos um caso em que faltou a “combinação com os russos” ou, no caso, com a “russa”.

Na organização do Ato, os setores políticos que tem mais proximidade com a “nova gestão” da Prefeitura de Curitiba, de Gustavo Fruet, propuseram que fosse alterado o tradicional trajeto do Ato para que este terminasse na frente da recém-criada Secretaria de Políticas para as Mulheres. A ideia era entregar uma carta para a secretária e, claro, mostrar como a nova Prefeitura tem atenção para a pauta feminista e de gênero.

Essa proposta recebeu críticas nas reuniões de organização, mas os setores que fazem oposição de esquerda à Prefeitura optaram por manter a unidade da passeata e acataram a proposta.

Apesar de todos reconhecerem que é um acerto existir uma Secretaria de Políticas para as Mulheres, estes setores, do qual o PSOL faz parte, questionam a inoperância da Secretaria, que não tem orçamento previsto e a ocupante do cargo, Roseli Isidoro, que não tem nenhum histórico na luta feminista e da igualdade de gênero. Quando foi a Pró-Reitora de Recursos Humanos e Assistência Estudantil da UFPR, na gestão de Carlos Moreira, Roseli não implementou nenhuma política afirmativa de gênero na Universidade.

Mas, no dia do Ato, o temor de que sua parte final virasse um palanque para a Prefeitura, não se concretizou. O motivo? A ausência de Roseli, que não estava na Secretaria quando a passeata por lá chegou. A sacada do prédio que fica em frente ao “cavalo babão” no Largo da Ordem ficou vazia, sem a personagem que todos imaginavam que estaria lá acenando ao público numa performance à lá Evita Perón. Depois de 20 minutos, uma dirigente da CUT disse, no caminhão de som, que a Secretária estava “presa no trânsito” e que “logo chegaria”. Ao escutar isso, o público do Ato foi embora e o evento se dispersou.

É… como diria Garrincha: é preciso combinar com os russos!