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Até o último momento de sua vida, Maé da Cuíca esteve presente nas rodas de samba em Curitiba.

“Abandona a cidade e vai lá na Vila mostrar…” Esta frase poderia ser de algum samba conhecido de Noel Rosa, mas não é. A frase é de “Deixa o Moço Falar”, de Ismael Cordeiro, mais conhecido como Maé da Cuíca, o cidadão samba curitibano.

Sim, Curitiba tem samba, sambistas, rodas de samba, músicos, cuiqueiros, escolas de samba… E não é de hoje! O resgate dessa história toda é o grande mérito do livro-cd “Colorado – A Primeira Escola de Samba de Curitiba“, trabalho de pesquisa coordenado por João Carlos de Freitas.

O livro mostra que, assim como no Rio de Janeiro e em outras cidades do país, as escolas de samba em Curitiba foram desde seu início espaços de resistência e de organização das comunidades mais pobres e excluídas da cidade. Na capital paranaense esta resistência foi mais acentuada, visto que combatia, além do preconceito e da discriminação já existente em outros locais, uma ideologia perversa que afirmava o estado do Paraná como que oriundo de uma “tradição europeia“, aonde as tradições culturais brasileiras “não tem vez”.

Mas, diferente do que aconteceu em terras cariocas, onde as histórias das escolas de samba tem sido resgatadas desde a metade dos anos 1970, a maior parte dos registros obtidos pelo autor do livro são de depoimentos dos sambistas da época, especialmente do lendário Maé da Cuíca, que foi a grande liderança da Colorado, que por sua vez foi a escola que mais produziu sambas e músicos no carnaval curitibano.

Em Curitiba, nem os jornais da época trazem registros com qualidade dos carnavais. Ao contrário, na maior parte das notícias os jornais da cidade registram o “fracasso” do carnaval. Aqui, o carnaval não foi visto nem como uma mercadoria a ser vendida.

Resgatar esta história é resgatar a história dos trabalhadores e das comunidades negras de Curitiba, que sempre foram “escondidas” da história oficial, das políticas públicas da Prefeitura, da memória coletiva de uma cidade que sempre teve uma elite que procurou afirmar que suas características europeia e branca eram de toda a cidade.

O livro também rompe com o mito de que não há carnaval em Curitiba. Dois fatos descritos são simbólicos para isso: a presença de Cartola e Leci Brandão, da ala de compositores da G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, como jurados no desfile das escolas de samba de Curitiba e a vitória de um samba curitibano em concurso de compositores ocorrido no Rio de Janeiro (história também descrita pelo samba Façanha). Além de Cartola e Leci, outros nomes como Ismael Silva e Grande Otelo vieram a Curitiba para serem jurados nos carnavais!

Atualmente, alguns projetos musicais resgatam esta história em Curitiba: Samba da Tradição, Samba do Compositor Paranaense e o Samba do Sindicatis. O primeiro se reúne no último domingo de cada mês e sempre homenageia sambistas que representam a história do samba curitibano; o samba do compositor acontece às segundas-feiras no Canal da Música com músicas autorais; o Samba do Sindicatis reúne sua roda quinzenalmente, aos sábados, atualmente no Bar Botafogo.

Se você é sambista de verdade, venha para Curitiba mostrar…