Britânicos comemoraram a morte de Thatcher em abril de 2013

Britânicos comemoraram a morte de Thatcher em abril de 2013

No final dos anos 1970, Margaret Thatcher ganhou as eleições para primeira-ministra na Inglaterra. Em seus primeiros discursos como eleita, cunhou a expressão TINA – There Is No Alternative (“Não há alternativa”), que se referia ao fato de que não era possível outro tipo de modelo econômico que não fosse o liberalismo.

Na sequência de Thatcher, seguiram-se vários governantes, em vários países, que seguiram a mesma linha ortodoxa, que privatizou serviços públicos, precarizou condições de trabalho, arrochou salários e aumentou a desigualdade social. Essa linha política seguiu mesmo com governos dos partidos trabalhistas e social-democratas. Esse caldo político hegemônico dos anos 1980 ganhou mais força ainda com a queda do Muro de Berlim em 1989, que simbolizava o fim de uma alternativa ao capitalismo, que até então se expressava na União Soviética.

Neste cenário, o filósofo e economista Francis Fukuyama ousou dizer que havíamos chegado ao “Fim da História”. Para ele, não haveria mais espaço para questionamentos ao capitalismo ou as suas formas mais bárbaras e todos deveriam se resignar com o modelo neoliberal. Foi uma época de desilusão, de conformismo, de mesmice.

No Brasil, contraditoriamente, vivemos uma década de 1980 bastante movimentada: “Diretas Já”, greves gerais, luta pela saúde, Rock Brasil, massificação do samba de fundo de quintal. Mas a mesmice do “Fim da História” não tardou a chegar!

Durante todos os anos 1990 e com resquícios ainda após os anos 2000, vivemos no Brasil o que gostaria de chamar de “Fim da História” musical. Entraram em cena diversos grupos musicais, digamos, duvidosos, que foram alçados ao sucesso rapidamente. A cada ano, novos sucessos eram lançados e todos eram obrigados a consumir tais músicas.

A avalanche foi tão grande que chegou mesmo a nomes de outras épocas da MPB. Em 1998, João Nogueira lançou “João de Todos os Sambas”, polêmico CD em que o craque do samba gravava músicas bastante duvidosas, incluindo uma do “pagodeiro” Luis Carlos.Em 1997, Dona Ivone Lara gravou o CD “Bodas de Ouro”, que conta com participações especiais de Negritude Jr. e Araketu. Na época, isso parecia um “chamariz” para o disco; hoje em dia, temos o inverso: Araketu e Negritude Jr. serão sempre lembrados visto que gravaram com Dona Ivone.

Para além de João Nogueira e Dona Ivone, outros nomes do samba também gravaram discos em que privilegiaram os teclados e o baixo, deixando a percussão e o violão de 7 cordas de lado.

A virada da História não tardou a chegar

Mas mesmo a poderosa indústria das gravadoras não conseguiu imprimir seu gosto por muito tempo. A partir dos anos 2000, com a massificação da internet e das múltiplas possibilidades de acesso a músicas e discos, vimos o resgate de sambistas que estavam esquecidos. A partir daí, novas rodas de samba foram surgindo e, junto a elas, verdadeiros movimentos culturais de afirmação do samba enquanto uma legítima cultura popular brasileira.

Atualmente, são vários os locais no Brasil em que cantam-se músicas que não tocam nas grandes rádios. E este não é só um movimento de resgate, visto que vários locais há uma intensa produção de novos sambas, como nas rodas do Samba do Compositor Paranaense em Curitiba e no Samba da Vela em São Paulo.

Que este novo cenário tenha vindo pra ficar, para que os depressivos anos de “Fim da História” fiquem apenas como uma recordação.