Passistas e ritmistas da Unidos da Vila Santa Tereza desfilam sem fantasia.

Era sexta-feira de carnaval e o calor no Rio de Janeiro era forte. Assim como na maior parte dos anos de minha vida, eu estava na capital carioca me preparando para mais uma carnaval.

Este carnaval tinha uma novidade: a rapaziada do Samba do Sindicatis, daqui de Curitiba, estava toda no Rio de Janeiro. E, logo que chequei, ao entrar em contato com eles, vi que a participação deles  no carnaval não seria à toa.

Ao chegarem no Rio, os amigos Luis e Ricardo foram convidados para ajudarem na bateria da Unidos da Vila Santa Tereza, que desfilaria na Marquês de Sapucaí na sexta-feira de carnaval, no Grupo de Acesso A, último degrau antes do Grupo Especial. E a participação deles no naipe de cuícas da bateria da escola (que chegou a receber uma nota 10 dos jurados) marcou uma história que deve pra sempre ser lembrada.

Por estar hospedado próximo ao Correios Central, local de concentração de metade das escolas de samba que desfilam no Sambódromo, fui “visitar” os amigos e acompanhar o esquenta da escola. Logo de cara percebi uma ausência: as fantasias da bateria e das passistas. O nervosismo dos membros da escola era grande e nada se resolveu até o início do desfile.

Fui junto com os amigos até a porta da entrada do desfile. Se estivesse vestido de azul e branco (cores da escola), era possível que tivesse desfilado. Infelizmente, minha camiseta branca do Flamengo destoava muito dos demais membros da escola. Acabei sendo barrado na última hora por um fiscal da liga das escolas de samba.

O problema era físico: um imenso congestionamento interditava a Avenida Brasil impedindo que os caminhões que carregavam os adereços chegassem até o centro do Rio, local onde fica localizado o sambódromo. Logo ela, a Avenida Brasil, que tinha sido até homenageada pela Mocidade Independente de Padre Miguel em 1994.

Mas, com todas as dificuldades externas, a comunidade da Unidos da V. Santa Tereza não decepcionou: desfilou, cantou o samba de maneira animada. Mas como esses quesitos não são os que definem o carnaval, não foi possível se salvar do rebaixamento.

Além do trânsito de pessoas desesperadamente querendo sair do Rio de Janeiro e de pessoas querendo desesperadamente chegar para o carnaval, outro problema havia: a desorganização por esta ser a primeira vez que haveria desfile de escolas na sexta-feira de carnaval. A “simples” mudança de dia do desfile alterou o tipo de organização que as escolas precisariam ter e quem acabou “pagando o pato” foi a Unidos da Vila Santa Tereza.

Anteriormente, o Grupo de Acesso A desfilava no sábado de carnaval, com menos agremiações e o Grupo B desfilava na terça de carnaval, tudo isso na Sapucaí. Os outros grupos, C, D e E, tem um desfile mambembe, estando atualmente na Intendente Magalhães, na Zona Norte. Mas, para 2013, devido ao interesse da Rede Globo em transmitir o desfila do Grupo A para poder ocupar sua grade para o Rio de Janeiro sem precisar mostrar o desfile das escolas de São Paulo, os Grupos B e A foram unificados e passaram a desfilar num “grande Grupo A”, agora em dois dias. Isso fez com que algumas escolas subissem diretamente do Grupo C para o Grupo A, sendo um salto talvez grande demais. Imagine que teve escola que estava na Intendente de Magalhães e de repente foi para a Sapucaí competir com outra que acabara de cair do Grupo Especial para o Grupo A.

A ebulição que toma conta do Rio de Janeiro na sexta-feira de carnaval mereceria até um texto a parte. Entre os que gostam de carnaval, os que ainda trabalham tratam de afrouxar a graveta, tirar o salto e guardar o crachá para se jogar no primeiro bloco que encontrarem. Também há muitos que tentam chegar à cidade. Por outro lado, há os que não gostam do carnaval e procuram sair da cidade. Resultado: congestionamento pra todo lado, nos aeroportos, rodovias e avenidas de acesso à cidade.

A situação vivida pela Unidos da V. Santa Tereza deve servir de alerta para as Escolas que desfilarão na sexta-feira de carnaval em 2014, especialmente para a Em Cima da Hora, que será a primeira a desfilar, revivendo o inesquecível “Os Sertões”.