cartaz projeto socialistaNo próximo dia 19 de novembro acontece, em Curitiba, uma mesa-redonda com o objetivo de debater um projeto de esquerda para o estado do Paraná. A ideia é sistematizar, desde já, um acúmulo programático que possibilite que os partidos de esquerda, que não se venderam e não se renderam, apresentem um projeto alternativo, socialista, nas eleições de 2014 no Paraná. Esse será o primeiro do que pretende-se que seja uma sequência de debates, que possam acontecer tanto em outros locais da cidade de Curitiba como no interior e no litoral do estado.

Vendido pelas elites locais, desde sua separação de São Paulo, em dezembro de 1853, como um estado com características europeias, sem pobreza e que tem como capital uma cidade-modelo, o estado do Paraná é cercado de mitos, que são cotidianamente questionados por aqueles que ousam se contrapor ao modelo vigente, especialmente aqueles que estão nas ruas e nos movimentos sociais, cobrando seus direitos, denunciando a corrupção e as manobras da cena política local, lutando por melhores condições de vida.

A tarefa do PSOL deve ser construir uma frente política de esquerda, com partidos, militantes e movimentos sociais, que apresente nas eleições uma visão do Paraná, que se contraponha ao que é propagandeado cotidianamente pelos governos locais. É desta forma que poderemos participar das eleições com uma perspectiva que vá além daqueles três meses, apresentando um programa que possa posteriormente ser apropriado por todos aqueles que entendem a participação política como algo que vai além das eleições.

Mas esse programa não cairá do céu nem surgirá do nada. Por isso, é necessário que construamos uma série de debates, nos mais diversos locais do estado, que tenham ampla participação, para além da aguerrida militância partidária, construindo com trabalhadores, militantes e estudiosos da área de saúde, educação, previdência, assistência social, questão indígena, direitos humanos, questão agrária, cidades, mulheres, LGBT, negros e negras, segurança pública, das empresas públicas (COPEL, SANEPAR, FERROESTE, entre outras), Porto, cultura, comunicação, entre tantos outros pontos que podem ser levantados num programa para o Paraná.

O objetivo deve ser superar o que é historicamente apresentado pela esquerda socialista em processos eleitorais estaduais e municipais. Por muitas vezes, apresentamos um programa que era apenas uma adaptação gramatical do programa nacional, chegando a defesas caricatas, como “o Paraná deve romper com o FMI”. Por outro lado, não devemos cair apenas no “possibilismo”, dizendo que vamos solucionar os graves problemas enfrentados pela população paranaense com medidas simplistas e puramente de marketing. Nosso programa deve ter a radicalidade que temos apresentado em nível nacional, indo a fundo nas razões dos problemas, mas apresentando propostas concretas, que dialoguem com a população.

Também devemos usar o espaço eleitoral para desfazer os mitos sobre nosso estado. É preciso mostrar que é falsa a ideia de que apenas os estados do Nordeste e do Norte são dominados por oligarquias políticas. No século XX, por duas vezes, o Paraná teve o Poder Legislativo, Judiciário e Executivo presididos por membros de uma mesma família. Recentemente, a disputa entre Fábio Camargo e Plauto Miró para uma cadeira no Tribunal de Contas e o anúncio de Hermas Brandão de que vai “voltar a política”, mostrou o quão oligárquica permanece a nossa política. É preciso denunciar os índices de violência, comparáveis com os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, destacando os dados de feminicídio, onde o Paraná tem cidades entre as que mais matam mulheres no Brasil. Em nosso estado, os indígenas e outras comunidades tradicionais sofrem com ameaças as suas terras. Apesar de aprovada em lei, a Defensoria Pública tem sua implementação caminhando a passos de tartaruga, ficando o Paraná como símbolo do atraso nesta área.

Além desses problemas estruturais, os últimos governos, especialmente o atual, de Beto Richa (PSDB), não se propuseram a construir políticas públicas capazes de diminuir tais desigualdades. No atual governo, a saúde, a cultura e a TV pública foram terceirizadas, não é investido o mínimo previsto em lei para a área de saúde, há desrespeito à autonomia universitária, os trabalhadores do serviço público estadual sofrem com calotes e descumprimento de acordos salariais por parte do governador. Como símbolo do descaso do governo estadual para com a população mais pobre, Beto Richa “inaugurou” uma ala no Hospital Universitário de Maringá (HUM) que não vai ser utilizada, por falta de profissionais. Ao ser questionado, disse que não trabalhava lá.

Mas as outras grandes candidaturas colocadas, inclusive aquelas que reivindicam seu caráter progressista e/ou de esquerda, não podem ser uma real alternativa. A atual ministra da Casa-Civil, Gleisi Hoffman (PT), é linha de frente das medidas mais conservadoras do governo Dilma, sendo a defensora nº1 das comunidades terapêuticas e da internação compulsória, do ataque aos indígenas e da privatização dos portos, além de outros pontos. Gleisi é símbolo da mutação programática por que passou o PT e sua direção, estando muito longe do que foi o PT nos anos 1980 ou de que é ainda parte da sua militância atualmente. Em pontos programáticos importantes, não há diferenças entre Beto e Gleisi, como demonstra a articulação entre esses dois setores políticos.

Ainda no campo das candidaturas “progressistas e/ou de esquerda” temos a possibilidade de Roberto Requião (PMDB) tentar ser governador pela 4ª vez. Conhecido por seus discursos e posições no Senado Federal contra as privatizações, Requião tem hoje, sem sombra de dúvidas, a imagem mais radical entre os três principais candidatos. Mas, infelizmente (ou felizmente), esta é apenas uma imagem: em seus governos, Requião pôs em prática muito pouco dos seus discursos. Além disso, seu partido, o PMDB, foi parceiro de Beto Richa em todas as medidas privatizantes e anti-populares de seu governo. Na saúde, por exemplo, a terceirização do Centro Hospitalar de Reabilitação (CHR) foi obra do governo de Requião. No caso da TV pública, Requião também optou pela não realização dos concursos públicos, favorecendo a privatização do governo Richa. Entre suas possíveis alianças, está o PSB do oligarca Hermas Brandão.

Uma candidatura alternativa é, portanto, mais que uma vontade. Ela deve ser encarada como uma necessidade, para que a política paranaense não fique na mesmice, não fique apenas numa disputa entre o pior e o menos pior. Nós não merecemos isso!

Sabemos que, após as mobilizações ocorridas em junho de 2013, muitas ideias que eram vistas como utópicas ou impossíveis, são agora pautas apoiadas por amplos segmentos da população. Só o PSOL e uma frente de partidos da esquerda socialista tem condições políticas de apresentar e defender as demandas das ruas em sua campanha eleitoral. Por uma candidatura do PSOL com este objetivo, convidamos a todos e todas para o debate do próximo dia 19 de novembro. E que seja o primeiro de vários!!!