imagesEm 2014, vamos ter um processo eleitoral que, entre outras coisas, vai escolher o novo governador do Paraná. Depois de ser eleito com muita expectativa e com promessas de eficiência e combate ao “aparelhamento” do estado da época de Requião, o governador Beto Richa (PSDB) vai enfrentar um processo difícil de reeleição, bem diferente de quando ganhou a Prefeitura de Curitiba pela segunda vez em 2008. Mas, assim como há 5 anos atrás, a principal adversária será novamente Gleisi Hoffmann (PT), agora senadora e ministra.

Mas uma eventual vitória de Gleisi seria uma verdadeira mudança de rumos no governo do Paraná? No PSOL, avaliamos que um eventual êxito eleitoral de Gleisi tende a significar mudanças muito pequenas no cenário político de nosso estado. Nossa avaliação decorre das medidas que a atual ministra-chefe da Casa Civil vem adotando em sua gestão e da experiência de outros governos estaduais petistas, como o de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul. A comparação com Tarso é importante, pois é a imagem de um governo petista dos tempos atuais, de um governo formado pela cúpula partidária; não caberia a comparação com um governo de outros tempos ou com a presença e programa dos militantes da base e do dia-a-dia.

Na Casa Civil, Gleisi tem sido porta-voz das principais medidas conservadoras do governo Dilma. Na área de saúde, tem defendido com unhas e dentes o favorecimento das comunidades terapêuticas (locais para tratamento de usuários de drogas que são privados e geralmente pertencem às igrejas) e a internação compulsória, além de defender a implantação da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), como fez recentemente em Curitiba. Além disso, foi uma das principais articuladoras da aprovação da Lei que vai intensificar o processo de privatização dos portos. Vale lembrar que a política de internação compulsória está associada as ideias de higienização dos espaços urbanos, para que fique “para inglês ver” na Copa do Mundo.

Mas nada se compara com a postura de Gleisi em relação a questão indígena e ao agronegócio. Desde que se tornou ministra, a pré-candidata do PT tem articulado diversas medidas visando favorecer o agronegócio, mesmo que isso tenha que significar o atropelo em cima das populações indígenas e outras comunidades tradicionais. Com Gleisi, o governo federal intensificou uma cruzada, nos âmbitos ideológicos e legais, contra as populações tradicionais, com diversas medidas que enfraqueceram o papel da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e buscaram dividir a função de análise sobre a titulação de terras com órgãos como EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) e Ministério da Agricultura. Tais medidas enfrentam resistência, com direito a uma ocupação da sede do PT no Paraná por parte dos indígenas.

Sob pano de fundo dessas defesas está o interesse do agronegócio, umas das principais bases parlamentares de Dilma. As relações de Gleisi com o latifúndio são tão fortes que esta indicou parentes para trabalharem na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), órgão liderado pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO).

As medidas de Gleisi são inegáveis, até pelos mais fervorosos defensores do governo. Mas sempre poderá se dizer que ela como governadora será diferente. Passemos, então, para um balanço do governo de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, que é o que há de mais próximo com um eventual governo de Gleisi (já sendo bastante generoso com Gleisi!!!).

Em 2010, Tarso Genro se elegeu governador numa aliança entre PT, PSB, PCdoB e PR, devido ao extremo desgaste do governo Yeda (PSDB) e também da lembrança de boa parte dos gaúchos com o governo de Olivio Dutra (PT), entre 1999 e 2002. Mas, desde o início, Tarso só lembrou os piores momentos do governo de Olivio, com medidas bastante conservadoras e que colocaram os problemas financeiros do estado em cima dos ombros da classe trabalhadora.

Para manter uma boa relação com o capital privado, o governo estadual concedeu à Gerdau desconto de 75% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para financiar a expansão da Usina Riograndense de produção de aço, totalizando cerca de R$460 mi de custo aos cofres públicos. Ainda no primeiro semestre de governo, houve a aprovação do “Pacotarso”, que aumentou as alíquotas de contribuição previdenciária dos trabalhadores do serviço público estadual.

Na área de educação, Tarso Genro foi ainda mais longe: entrou com uma ADIN (Ação Direta de Institucionalidade) no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a lei do piso dos profissionais da educação e transformou o que seria o mínimo salarial em teto, repetindo a ação de muitos outros governos estaduais ligados ao PSDB, PSB, DEM e PMDB. Na educação superior, a UERGS permaneceu sucateada, sempre com ameaças de fechamento de cursos e unidades, causando medo entre os estudantes e as comunidades. E, quando o sindicato dos professores (CPERS) resolver ir a Brasília protestar pela anulação da Reforma da Previdência, o governo descontou os dias parados, numa atitude claramente anti-sindical.

É possível citar ainda muitas medidas “com bico de tucano” de Tarso, na área ambiental, saúde e afins. Isso tudo só foi possível graças a uma ampla base parlamentar, construída em base a muito loteamento de Secretarias e outros órgãos. Nem mesmo deputados historicamente combativos do PT ousaram exercer sua autonomia. Símbolo disso foi o deputado estadual Raul Pont, ligado a corrente Democracia Socialista, que em seu informativo de março de 2013, acusou o CPERS de fazer “disputa política” contra o governo.

As atuais medidas de Gleisi na Casa Civil e o balanço do governo de Tarso no Rio Grande do Sul mostram que é preciso lutar, e muito, para que as opções políticas no Paraná não se resumam a uma disputa entre Beto e Gleisi, entre PT e PSDB. A busca de uma alternativa passa também pelo abandono em ilusões requianistas, especialmente quando este cogita Hermas Brandão para ocupar a vaga de vice.

Caso um projeto alternativo não tenha fôlego suficiente para estar num eventual segundo turno, ficaremos tentados a votar naquele que será supostamente “menos pior”. Já argumentei, em outros momento, que nada é pior do que o menos pior, então esse não é meu caso. Mas sei que muitos acabam indo por esta opção. Nesse caso, será preciso deixar claro: é preciso apertar o botão da urna sem nenhuma ilusão, sabendo que a partir de 1º de janeiro de 2015 teremos que ir as ruas com ainda mais força, para combater mais um governo que ocupará as cadeiras do Palácio Iguaçu para a valorização dos já valorizados e para o favorecimento dos grandes empresários, latifundiários e oligarcas do Paraná.