lenineNos dias 09 e 10 de novembro aconteceu, em Curitiba, a 4ª edição da Virada Cultural*, a primeira sob a gestão de Gustavo Fruet (PDT) na prefeitura e de Marcos Cordioli (PT) na Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Apesar das novidades e de pequenas alterações, a Virada repetiu diversos problemas dos anos anteriores e faz-se necessário um balanço político e estrutural do evento, para que, quem sabe, possamos superar estas situações nas próximas edições.

Em 2012, a Virada foi um evento elitista, tanto do ponto de vista da sua divulgação e das atrações, quanto da forte repressão em cima de pessoas que buscavam “ganhar um troco” vendendo cervejas. Na época, fiz um texto sobre o evento, um dos primeiros da etapa pós-eleitoral deste blog, que pode ser lido clicando aqui.

Devido a mudança da prefeitura e, principalmente, pelo fato da FCC ser presidida por um militante do PT historicamente ligado a área de cultura, as expectativas sobre a Virada Cultural de 2013 eram muitas.

Entendo ter havido uma melhora significativa na divulgação da Virada, com divulgação no transporte coletivo, embora os cartazes não deixassem claro o caráter gratuito dos shows. Mas isso, associado ao fato de atrações como Criolo e Gaby Amarantos terem sido convidadas para a Virada, já fizeram com que o público dos shows fosse bem maior e mais diverso.

De resto, a situação de falta de estrutura permaneceu a mesma. Neste ano, os vendedores de cerveja eram mais raros que no ano passado; desta vez, não vimos repressão mas também não vimos legalização e, por conta desta indefinição, muitos optaram por não se arriscar. O resultado foi um público morrendo de calor, especialmente nos shows em horários próximos ao meio-dia, e bebidas sendo vendidas a preços inacreditáveis (teve lata de cerveja sendo vendida a R$10 no show do Criolo).

Mas não era só a bebida que faltava. No palco Conexões (da Boca Maldita) só havia uma ambulância e, no show do Criolo, quando uma moça desmaiou por conta do calor e fomos procurar o serviço de saúde, a ambulância não estava mais lá. No palco da praça Carlos Gomes também não vi nenhuma ambulância presente.

Ainda no palco Conexões, em todos os intervalos era lembrado que não se devia beber e dirigir, mas não havia nenhum incentivo para que as pessoas fossem de ônibus, visto que não haviam horários extras, muito menos transporte depois da meia-noite. Isso contrasta com qualquer outra cidade brasileira, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde eventos deste tamanho contam com metrô funcionando por 24 horas. 

Além disso, a Polícia parece não ter sido avisada que um grande evento gratuito e popular iria acontecer no centro da cidade. É isso que mostra um video publicizado via Youtube (acesse clicando aqui), que mostra um adolescente sendo preso de maneira arbitrária. Mais uma vez, a Polícia Militar se mostrou preparada apenas para o combate “contra o inimigo interno”, sem ter nenhuma condição de tratar com pessoas comuns buscando diversão.

Mas o que mais irritou os presentes na Virada foi o fato do comércio da cidade ter ignorado a Virada Cultural. No centro da cidade, poucos bares e restaurantes se prepararam, com funcionários extras, maiores estoques, etc. O resultado era um cenário de “terra arrasada” em muitos locais. Essa situação mostrou que a defesa da Associação Comercial do Paraná contra o feriado do 20 de novembro, alegando ter prejuízo com ele, é algo hipócrita, visto que a mesma entidade não orientou seus associados a se prepararem para a Virada Cultural.

A 4ª Virada Cultural mostrou que ainda é preciso avançar muito na preparação de grandes eventos de rua na cidade de Curitiba, garantindo que os foliões tenha acesso a uma estrutura adequada, com ônibus extras e de madrugada, comércio aberto, permissão de vendedores ambulantes, acesso a serviços de saúde em casos de emergência. Lembrando dos Titãs, é preciso que Prefeitura e governo do Estado entendam que a gente não quer só o show!

*O que chamamos genericamente de Virada Cultural foi, em 2013, a junção de diversos eventos: um chamado de Virada Cultural, organizado pelo governo do Estado, um chamado de Corrente Cultural, organizado pela prefeitura e um evento organizado pela Associação Comercial do Paraná na praça Espanha.