19-03-201203-13-28ReceitaEra final do ano, 2005, estava no Pátio da Reitoria da UFPR e recebi uma ligação que me convocava para uma vaga num concurso público que havia feito há mais de um ano, quase nem lembrava mais. Após os exames protocolares e a nomeação no Diário Oficial, em 03/01/2006 comecei a trabalhar na UFPR, lotado na Central de Agendamentos do Hospital de Clínicas. Apesar do trabalho intenso, tudo era novidade naquele tempo e logo a turma de 10 novos funcionários se adaptou e aprendeu o trabalho.

Na Central de Agendamentos eram marcadas 90% das consultas e exames do HC e, naquela época, tudo era solicitado a partir de pedidos manuais, sem nenhum tipo de informatização. Dentro de poucos meses, começamos a perceber que um problema grande para os “marcadores de consulta” eram as letras de médico: como saber se aquele pedido de exame de sangue era de Colesterol HDL ou LDL? Como saber se naquele pedido de Ergometria há um veto a um Propanolol ou a um metoprolol? Entre as letras de médico, havia uma que se destacava e que era a mais incompreensível de todas.

Esse não era, obviamente, o único problema para quem trabalhava naquele local, mas seria um de fácil solução. Além das grafias mal feitas, nos faltava um intérprete de LIBRAS, um ambiente melhor arejado, uma pessoa para orientar os usuários sobre como proceder nos exames, entre outros pontos. Por conta dessa situação, resolvemos nos mobilizar e fizemos um abaixo-assinado com alguns pedidos, entregues ao então Reitor Moreira numa paralisação dos técnico-administrativos no dia 17 de abril de 2007. No dia 28 de maio, seguindo o calendário nacional e as movimentações na UFPR, entramos em greve e, pela primeira vez, os funcionários da Central de Agendamentos aderiram em peso.

A greve foi dura, tanto pela vacilação do sindicato em tocá-la, quanto pela perseguição da Reitoria e do Ministério Público em cima do movimento, especialmente no HC. Na metade do movimento, os trabalhadores do HC tiveram que voltar ao trabalho, por determinação judicial. Além disso, tentando retaliar a participação de alguns trabalhadores na greve, foi aberto um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) que buscava punir cerca de 30 funcionários do HC sob acusação de “omissão de socorro”.

Num primeiro momento, ficamos assustados com o nível de perseguição. Depois, vimos que nada poderia acontecer do ponto de vista legal e nos tranquilizamos. Mas, na hora das “oitivas” do processo, adivinha quem era o presidente da Comissão do PAD? Ele, o mesmo médico das letras indecifráveis! Foi desta forma que ele se tornou nosso duplo algoz.