Sarney, Collor e Renan são senadores atualmente.

Sarney, Collor e Renan são senadores atualmente.

Nas eleições de 2014, além das eleições para deputados federal e estadual, governador e presidente, serão eleitos 27 senadores, renovando 1/3 do Senado Federal. Segundo a Constituição Federal de 1988, os senadores representam as unidades federativas (estados e o Distrito Federal), garantindo um equilíbrio entre as unidades federativas (UF’s), visto que cada um tem o mesmo número de senadores (3), diferente da Câmara dos Deputados,  em que as representações são proporcionais ao número de eleitores de cada estado (embora, devido ao mínimo de 9 deputados por estado, há uma distorção nestes números).

Só que, no Brasil, o Senado não funciona apenas como um ente para garantir isonomia entre as UF’s. Mais que isso, o Senado é “instância revisora” dos projetos e propostas aprovadas na Câmara dos Deputados. Além disso, há várias questões que cabe apenas ao Senado decidir, como a indicação de ministros para o Supremo Tribunal Federal, diretores para as agências reguladoras e o presidente do Banco Central, por exemplo. O Senado carrega ainda outras particularidades, como ter muitos ex-governadores em sua composição, mandato de 8 anos e por um alto índice de “não-eleitos” como senadores, por conta da esdrúxula regra da eleição de suplentes.

No Paraná, as eleições de 2014 para o Senado serão marcadas pela tentativa de Álvaro Dias (PSDB) de renovar seu mandato pela terceira vez seguida (está no Senado desde 1999), podendo chegar a 24 anos seguidos de mandato. Vale ainda registro que Álvaro já havia sido senador entre 1983 e 1987, quando renunciou por ter sido eleito ao governo do Estado. Álvaro é grande favorito, tanto porque outros partidos grandes optam por não “arriscar” nesta disputa, tanto pelo fato de Álvaro Dias ser um senador atuante, liderando a oposição de direita e conservadora aos governos do PT, o que o coloca com destaque na mídia corporativa, facilitando que possa vender uma imagem de “defensor dos interesses do Paraná”.

Para o PSOL e a esquerda de maneira geral, as eleições ao Senado são um desafio difícil. Primeiramente, porque senadores vinculados a classe trabalhadora não podem cumprir o pressuposto de “representar o estado”, visto que normalmente esse pressuposto está vinculado a defesa de interesses das elites locais. Além disso, uma eleição de caráter majoritário sempre dificulta a eleição de representantes de posições que são minoritárias na sociedade.

Neste cenário, entendo que as candidaturas do PSOL ao Senado devem colocar debates bastante ideológicos nas suas campanhas. Em 2010, embora com conteúdo oposto ao que defendemos no PSOL, quem fez uma campanha desta forma foi Ricardo Barros, candidato no Paraná pelo PP. Em seus programas eleitorais, Barros, representante de uma forte oligarquia do norte do estado, defendeu a redução da maioridade penal, a criminalização do aborto, falou contra o casamento civil igualitário, entre outros pontos. Seus posicionamentos acabaram por ajudar na eleição de Gleisi, do PT, vista por muitos como uma alternativa progressista diante de posições tão conservadoras. Mal sabiam seus eleitores que Gleisi abdicaria do mandato para ser ministra da Casa-Civil, deixando em seu lugar o suplente Sérgio Souza (PMDB), com posições políticas muito próximas das de Barros. E, como ministra, Gleisi está muito mais próxima dos posicionamentos de Ricardo Barros do que de um ideário progressista.

Nas eleições de 2014, o PSOL deve se apresentar como um contraponto ideológico a esta ofensiva conservadora presente atualmente na sociedade brasileira. Devemos usar nosso pequeno espaço eleitoral para defender pautas como a descriminalização e legalização do aborto (conforme a defesa do Setorial de Mulheres do PSOL), a aprovação do casamento civil igualitário, lutar contra a redução da maioridade penal, contra a autonomia do Banco Central, o entendimento de que as drogas são um problema da área de saúde (e não simplesmente da segurança), entre tantos outros temas. É desta forma que estaremos mostrando a nossa diferença perante a população, que normalmente tem que escolher entre candidatos “sem-posição” (e que, no mandato, acabam se alinhando com posturas conservadoras) e candidatos claramente conservadores.

No Paraná, uma campanha desta forma é ainda mais necessária. Como colocado acima, Álvaro Dias é o grande favorito, devido a sua grande presença de mídia e a uma máquina partidária poderosa. Por outro lado, há um bom número de eleitores que não querem votar em Alvaro, por entenderem que “já deu a sua hora”. Esse espectro de eleitores é bastante vasto e agrega distintos posicionamentos ideológicos. Em 2006, ano da última eleição de Álvaro, uma candidata acabou por capitalizar este voto “anti-Álvaro”: Gleisi Hoffmann, que até aquele momento era uma desconhecida burocrata da Itaipu. Na época, Gleisi cresceu nas últimas semanas de campanha, chegando a 45,1% dos votos, e quase ganhou a vaga de Álvaro Dias, que teve 50,5%.

Para o Senado, o cenário da eleição de 2014 é parecido com o de 2006. E, mais uma vez, a tendência é que uma candidatura do PT se postule como a “anti-Álvaro com chances de ganhar”. Mas, justamente por ter Gleisi como candidata ao governo e por ter esta candidatura como sua prioridade, o PT deve negociar a vaga ao Senado, cedendo esta para algum partido de sua coligação. Uma hipótese é a coligação liderada por Gleisi ter Osmar Dias (PDT), irmão de Álvaro, que já foi senador entre 2003 e 2010, como candidato, que obviamente não poderia ocupar o espectro de “anti-Álvaro”. Essa hipótese abriria espaço para que muitas candidaturas, entre elas a do PSOL, disputassem o voto “anti-Álvaro”.

Com maiores ou menores chances e viabilidade eleitoral, é fundamental que o PSOL ocupe este espaço da eleição do Senado para disputar a consciência da população sobre temas complexos mas necessários de serem debatidos e onde a cada dia encontram-se retrocessos no parlamento federal.