une-dilma_dida-sampaio-ae_24032011-600Depois de meses de silêncio, os militantes do PCdoB, partido que há 10 anos está no comando do Ministério do Esporte, “saíram da toca” e partiram pra ofensiva, acusando os críticos da Copa do Mundo de estarem colaborando “com a direita”. No raciocínio do PCdoB, a Copa do Mundo, um evento classificado por eles como “contraditório”, será um momento de afirmação do país e do governo brasileiro. Estar contra a Copa é estar, segundo, mais uma vez, o PCdoB, contra o governo brasileiro, classificado como um aliado dos movimentos sociais e populares. Só aqueles que desejam a “volta da velha direita” é que podem querer melar a Copa.

Os argumentos usados por aqueles que ocupam cargos no governo e por isso tem interesse material e financeiro na sua manutenção, soam absurdos. Mas o contorcionismo argumentativo não é inédito: em 2009, nas batalhas contra a destruição do código florestal, projeto de lei que tinha Aldo Rebele (PCdoB-SP), os contrários às mudanças no código foram acusados de estarem sendo manipulados por ONGs internacionais. Entre os “manipulados” estavam movimentos como o MST e a Comissão Pastoral da Terra.

Agora, mais uma vez, o PCdoB enxerga uma “terrível articulação da direita” quando milhares de pessoas se dispõe a ir às ruas, como há mais de 20 anos não acontecia, para defender que a prioridade do governo federal não deve ser a Copa do Mundo. Não é possível, para o PCdoB, aceitar que hajam mobilizações que ameacem os negócios governamentais com os quais estão envolvidos, muito menos que a juventude brasileira se mobilize por fora de entidades como a UNE e a UBES, que historicamente são comandadas pelo partido.

Desde que a FIFA anunciou que o Brasil ia ser a sede da Copa do Mundo de 2014, temos visto despejos forçados, elitização das cidades, gastos com dinheiro público para caríssimos estádios de futebol, corrupção, intervenção da FIFA nas leis brasileiras, criando um estado de exceção. Todos esses procedimentos, marcantes de uma política anti-popular e, portanto, de direita, foram liderados pelo governo federal e por todos os governos estaduais (de onde teremos jogos da Copa), sejam eles do PT, PV, DEM, PSDB, PSB, etc.

O combate contra essas políticas se deu, ao longo de todos esses anos, a partir dos “Comitês Populares da Copa”, composto por militantes de diversos movimentos e organizações, como MTST, ONGs da área de Direitos Humanos, associações de torcedores, PSOL, PSTU, PCB, Consulta Popular, militantes de base do PT, entre outros. Não me parece que nenhum desses agrupamentos está identificado com a direita. Em 2013, a contestação à Copa cresceu, ganhando a adesão de milhares de pessoas. Mas os grandes interessados na manutenção da Copa continuam a defendendo: a rede Globo, o Banco Itaú, a Coca-Cola e os governos estaduais e federal.

Não há, portanto, nenhum “golpe da direita” se aproveitando da Copa do Mundo. Engraçado que este discurso também se vê em veículos de mídia tradicionalmente conservadores, como a Veja, em que colunistas afirmaram que haveria um “golpe comunista” quando o “povo estivesse entretido na Copa do Mundo”. Como se vê, tanto governo quanto sua oposição conservadora tem medo das passeatas e dos movimentos que podem acontecer (e que já vem acontecendo), porque estão oxigenando a política brasileira, algo que os defensores do “status quo” não querem nem ouvir de longe.

Não podemos ter dúvida: afirmar que #nãovaiterCopa é estar na luta contra os despejos forçados, contra a elitização das cidades e do futebol, em defesa de mais verbas para a saúde e educação e contra a corrupção. Por isso, vamos às ruas, com a juventude e os trabalhadores, sem os burocratas!