tn_311_600_Andre_Vargas_161113Nas últimas semanas vieram a tona as ligações do deputado federal paranaense André Vargas (PT) com o doleiro Alberto Youssef, que está preso por conta da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Youssef está preso desde março acusado de ser chefe de um esquema de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, fraude em contratos de câmbio e outros crimes. Por sua vez, Vargas admitiu que pegou carona em um jatinho financiado por Youssef para uma viagem da família para João Pessoa (PB).

Até o início das denúncias, Vargas era vice-presidente da Câmara Federal e uma das principais lideranças do PT no Paraná, especialmente na região de Londrina. Desde então, renunciou a vice-presidência e se licenciou do cargo de deputado e sua renúncia tem sido cogitada há dias. E, diferente de outras ocasiões, em que membros do PT receberam solidariedade de (quase) toda a militância do partido, Vargas tem sido pressionado a renunciar e foi “jogado na cova dos leões” pelo ex-presidente Lula, que disse que os erros de Vargas não podiam prejudicar todo o partido. Na última sexta-feira (dia 24/04), Vargas anunciou sua desfiliação do PT.

O que causou espanto em nível nacional não foi surpresa no Paraná. Por aqui, quase ninguém se surpreendeu que André Vargas tenha sido flagrado em “relações perigosas” com alguém que está preso por lavagem de dinheiro. Há muito tempo já corriam nos bastidores os boatos de que André Vargas havia herdado o “esquema” que garantiram as sucessivas eleições de José Janene, ex-deputado do PP que faleceu em 2010 e que esteve envolvido no escândalo do mensalão.

Mas há outro elemento que faz com que o “caso André Vargas” não seja um surpresa: ele foi uma das principais lideranças do PT de Londrina, conhecido como um dos setores mais degenerados do partido no Paraná. Diferente de outros locais, onde uma militância ligada a movimentos sociais ainda ocupa espaço no PT, em Londrina há uma grande hegemonia de uma burocracia muito consolidada, que tem a “defesa do trabalhador” apenas como uma bandeira de outros tempos.

A segunda maior cidade do Paraná foi uma das primeiras a conhecer uma prefeitura do PT no estado, em 1992. Viu, também, o PT propor a privatização da empresa de telefonia da cidade (Sercomtel) já neste primeiro mandato, derrotada por um plebiscito popular. Nessa época, o PT era uma liderança do combate as privatizações no país. Depois de perder a sucessão em 1996, o PT voltou ao governo de 2001 a 2008.

Nesse período, os servidores da cidade tiveram um longo período de arrocho salarial e, por conta disso, fizeram, em 2006, uma histórica greve de 106 dias de duração. Na época o prefeito Nedson Micheleti (PT) cortou o salário dos trabalhadores grevistas, que somente agora estão ganhando uma ação na justiça que os fará receber este dinheiro de volta. Além de Nédson, Cheida (prefeito de 1988 a 1992) e André Vargas, o casal ministerial (Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann) também teve suas primeiras funções de destaque na cidade.

A lógica de “tudo pelo poder” que foi hegemônica no PT em todo o Brasil, especialmente depois da metade dos anos 1990, teve em Londrina seu exemplo maior.

As relações de André Vargas com um doleiro preso não surgiram, portanto, no vácuo. Elas são fruto de um modo de construção política que teve a direção do PT de Londrina como um expoente. Felizmente, sempre existiram resistências a esse modus operandi e muitos dos que resistiram a isso hoje constroem o PSOL e o PCB na cidade e alguns ainda resistem dentro do PT.

E os acontecimentos que hoje evidenciam a degeneração da casta dirigente do PT na cidade não devem ser comemorados por nenhum outro partido ou agrupamento de esquerda. Isso porque essa degeneração não gerou um deslocamento de consciências na população fazendo com que esta buscasse se organizar de maneira mais autônoma, fortalecendo os movimentos sociais, sindicatos, etc. A desilusão com o PT acabou por gerar a visão de que “todos são iguais”, o que gerou a eleição, em 2012, do candidato a prefeito que argumentava que era “técnico e apolítico” (no poder, o atual prefeito Alexandre Kireef tem mostrado que faz bastante política e de péssima qualidade).

A queda de André Vargas deve nos dar ainda mais certeza de que a verdadeira política é construída por fora das instituições tradicionais e oficiais, com autonomia em relação ao capital e aos grandes conglomerados financeiros. Esse é o desafio colocado, para que a saída de cena do PT não nos faça ter ainda mais retrocessos.