guarapuavautfprNa última sexta-feira, mais de 100 técnicos-administrativos em educação (TAE’s) da UTFPR (acompanhados por TAE’s da UFPR e IFPR) fizeram um ato durante a solenidade de inauguração do campus de Guarapuava da UTFPR. Os TAE’s fizeram a manifestação para exigir negociação por parte do governo federal, visto que a greve já durava 67 dias na ocasião, sem nenhuma proposta concreta por parte do governo. Apesar de não estar envolvido diretamente nas atividades de greve como em outros momentos (em 2007, 2011 e 2012)*, estive participando da manifestação e entendo que ela motiva uma série de reflexões sobre o atual funcionamento da política brasileira.

O que mais chamou a atenção da solenidade foi a presença de muitas “ôtoridades”, incluindo prefeitos, ex-prefeitos e vereadores de Guarapuava e da região, secretários do governo estadual (como Cezar Silvestri, da Casa-Civil), a senadora Gleisi Hoffmann, um secretário do MEC e reitores de instituições federais e estaduais. A maior parte deles estava ali para “tirar uma lasquinha” dos louros da inauguração do campus, que certamente foi uma conquista, especialmente para a juventude que carece de ensino superior perto de sua casa.

Neste sentido, chamou bastante atenção que a maior parte dos discursos fizesse menção ás glórias individuais dos “envolvidos” na construção do campus. Do deputado federal que “garantiu a emenda orçamentária”, passando pelo prefeito que “escolheu pessoalmente os cursos que o campus ia oferecer” e “cedeu o terreno”, todos mostraram ali como é possível se apoderar individualmente de conquistas que são coletivas e construídas com o esforço de centenas de pessoas “invisíveis”.

Para quem chegasse de última hora, poderia parecer que o deputado federal da emenda orçamentária tinha tirado dinheiro de seu bolso para a construção daquela unidade da UTFPR. Ao ouvir os argumentos de um militante do PCdoB sobre Gleisi Hoffmann, por um momento achei que ela mesmo havia ido a Guarapuava enfileirar tijolos e passar massa corrida na construção. Tudo isso porque, no Brasil, o que é um direito e uma obrigação governamental é vendido para a população como uma dádiva, que deve sempre ser recompensada no próximo momento eleitoral.

Em nenhum momento foram homenageados (nem chegaram a ser citados!), os trabalhadores da construção civil que por lá passaram, os técnico-administrativos que garantiam a realização do evento, os funcionários terceirizados da segurança e da limpeza, etc. Nos discursos, tudo ali era obra de políticos, reitores e diretores de campus.

É possível dizer que a solenidade era uma grande farsa. Ali um monte de engravatados fingia ter feito algum esforço extraordinário e superior a suas obrigações e uma “plateia qualificada” aplaudia os “feitos” daquelas que discursavam. É claro que esta falsidade não foi exclusiva desta solenidade, pois isto se repete Brasil afora, praticamente todos os dias.

Mas o coro dos contentes desafinou. A presença de grevistas constrangeu os presentes e mostrou a imprensa que nem tudo vai bem. Infelizmente, um momento que deveria ser de comemoração para todos e todas, virou um momento de um protesto justo e legítimo, visto que não é possível admitir que o governo federal se negue a negociar com categorias que estão em greve há mais de 2 meses. Com a nossa presença, furamos o bloqueio e garantimos que um representante sindical também pudesse falar na solenidade.

Mas não foram só as digníssimas “ôtoridades” que se constrangeram com a manifestação. Alguns militantes do PT e do PCdoB, que em algum momento de suas vidas estiveram do lado contrário daquelas oligarquias locais ali representadas nas figuras de prefeito e ex-prefeitos, saíram irritadíssimos com a presença dos TAE’s. Ao invés de focarem sua indignação nos governantes ligados aos partidos que fazem parte, fizeram o papel nefasto de tentar deslegitimar o movimento grevista. No auge de sua irritação, a liderança do PT local chegou a dizer que tínhamos que ficar felizes pois não havia tido intervenção policial na manifestação!

Vale ainda registro que, por conta da UTFPR utilizar o SiSu (Sistema de Seleção Unificado/ENEM) como forma de ingresso, é provável que a maior parte da população da região nunca pise naquele campus. Por enquanto, quem tem garantia de ser beneficiado são os setores do comércio local e donos de imóveis, que verão os alugueis aumentarem de preço a partir de novas demandas (especialmente pelo fato do campus ser bastante afastado do restante da cidade).

O que exponho aqui mostra que, como bem afirmou Chico Science, cada passo dado nos leva além. As greves, passeatas, manifestações e atos como esse nos servem mais do que muitos cursos de formação política, pois desnudam de forma concreta o funcionamento de nossa desigual sociedade.

Parabéns a todos os TAE’s que estiveram envolvidos neste momento e que sigamos fortes na luta por uma educação de qualidade e gratuita, que sirva aos interesses da maior parte da população, das diferentes regiões do Brasil.

*Desde 19 de março, estou licenciado da UFPR para a conclusão da qualificação do mestrado em Saúde Coletiva que estou cursando na Unifesp. Entendo que, nesta situação, uma eventual participação ativa na greve ficaria prejudicada, visto que não irei sofrer determinadas consequências advindas da paralisação, como um eventual corte de ponto, perseguição no local de trabalho, etc. Desta forma, tenho participado pontualmente de algumas atividades.