Switzerland v France: Group E - 2014 FIFA World Cup BrazilAlém dos debates políticos que envolveram a realização do evento em si, o próprio andamento dos jogos da Copa do Mundo vai trazendo outros temas e reflexões para espectros mais amplos da população. As várias particularidades que envolvem a seleção da França são um desses temas.

Primeiramente, gostaria de dizer que fiquei bastante impactado quando soube, ao assistir uma palestra cerca de um mês antes do inicio dos jogos da Copa, que a seleção francesa de futebol é alvo de uma intensa disputa política no país. Alguns setores e jornais conservadores não consideram, por exemplo, que o país foi campeão do mundo de futebol em 1998 simplesmente pelo fato do time da época ter sido liderado por Zidane e outros jogadores que eram imigrantes ou filhos de imigrantes.

A “particularidade francesa” que tem mais chamado atenção atualmente é o fato do atacante Karim Benzema se recusar a cantar o hino da França, a Marselhesa. Benzema é filho de imigrantes argelinos e considera que aquele hino é símbolo da opressão francesa sobre este país. Por conta disso, Benzema é perseguido por políticos da extrema-direita francesa, que defendem a exclusão do jogador dos quadros da seleção.

O que causa estranhamento é que o atacante se recusa a cantar um hino que simboliza a Revolução Francesa de 1789 e seus ideais de “igualdade, fraternidade e igualdade”. A postura de Benzema seria, então, fruto de um obscurantismo político de sua parte?

Não! A postura de Benzema evidencia o que nós, ocidentais, preferimos muita vezes omitir: muitas atrocidades políticas e humanitárias foram cometidas em nome da “igualdade, fraternidade e liberdade” e em nome da Marselhesa. Por isso, devemos respeitar e apoiar o jogador, repudiando inclusive as ações da extrema-direita francesa que quer impedi-lo de jogar. Devemos repudiar também qualquer perseguição aos demais jogadores imigrantes, aqueles que o narrador Luis Roberto chamou de “negros maravilhosos”.

A defesa da Marselhesa como um hino revolucionário, desconsiderando o que veio depois de sua composição, e a crítica a Benzema por setores da esquerda brasileira só mostram como ainda estamos longe de sair das nossas “caixinhas” preestabelecidas. É preciso uma renovação de nosso pensamento, incorporando as bandeiras e aprendendo com todos aqueles que são oprimidos.