Protesto de professores na posse de Beto Richa.

Protesto de professores na posse de Beto Richa.

Com a crescente “marketocracia” cada vez maior que vivemos na política brasileira, algumas palavras e expressões são repetidas como verdadeiros mantras pelos governantes. Uma delas é a “herança maldita”, expressão repetida com muita força por Lula em 2003, logo após assumir o mandato pela primeira vez.

É possível dizer que, naquela ocasião, a frase fazia sentido, visto que Lula assumia o governo após 8 anos de FHC e 500 anos de governos pró-elite. Havia, portanto, heranças e ranços na máquina de governo que precisariam de um tempo para serem transformados. Mas, depois de 12 anos de governos petistas, a “herança maldita” se transformou apenas numa expressão vazia e que serve aos governos e governantes como um mantra para justificar medidas impopulares.

Como não poderia deixar de ser, essa situação chegou ao extremo no estado do Paraná: ao assumir seu segundo mandato como governador, Beto Richa editou decretos que combatem a “herança maldita” deixada pelo… seu próprio governo!

No principal deles, Beto Richa proibiu a contratação de novos servidores, tanto na administração direta como na indireta (o que inclui empresas públicas e sociedades de economia mista). Acontece que esse Decreto é apenas uma peça de marketing (ou de anti-marketing, a depender da visão de quem olha), visto que a contratação de servidores é subordinada ao governador e um decreto pode ser revogado por uma canetada do… próprio governador. Ou seja, Beto Richa editou algo que proíbe ele mesmo de fazer contratações.

Neste sentido, é apenas uma medida para dar holofotes e mostrar que o governo está mesmo disposto a fazer “ajustes” e “economia”. É pra mostrar ao “mercado” que este governo está mais alinhado com a lógica liberal do que qualquer outro. Sempre é bom lembrar que a arrecadação do Paraná tem batido recordes nos últimos anos.

Ao contrário desse decreto, proibindo contratação de servidores, ou do que fala sobre nepotismo (e abre exceção para sua própria família), o que os paranaenses precisam é de uma determinação clara de que nenhum leito em hospital ficará fechado por falta de funcionários, que nenhuma criança ou adolescente ficará sem aula por falta de professor ou de funcionários, que nenhum servidor ou trabalhador contratado pelo Estado ficará sem salário ou receberá atrasado aquilo que tem direito.

Com esse conteúdo, aí sim um decreto do governador poderia ser considerado novidade e iria combater as “heranças malditas”, que vem se acumulando ano a ano, governo a governo.

Em tempo: o decreto não proíbe a contratação de comissionados.