info_idh_021214Esse artigo foi originalmente publicado no jornal Gazeta do Povo

13 anos: essa é diferença de expectativa de vida entre quem mora num bairro vizinho ao centro de Curitiba (Água Verde) e quem mora na Vila Grécia, em Almirante Tamandaré, na região metropolitana. O apontamento é de uma pesquisa do Atlas do Desenvolvimento Humano da ONU (Organizações das Nações Unidas), divulgada pelo jornal Gazeta do Povo.

O dado, que assusta, é mais uma amostra de que uma boa política de saúde depende de ações conjuntas, inter-setoriais e entre as diferentes esferas de governo, visto que o local de moradia, entre outros fatores (como o local de trabalho e meio de locomoção) são determinantes para o acesso a saúde ou a doença.

Na pesquisa da ONU, fica evidenciado que fatores como renda, acesso a saneamento básico e acesso a educação são os que acabam por definir quem vai ficar doente e quem vai ter uma vida saudável. Por conseguinte, fica também evidente para onde devem rumar as políticas de prevenção e promoção da saúde.

Isso nos deve trazer uma reflexão, acerca do modo que estamos fazendo esta prevenção e promoção da saúde. Apesar dessas políticas terem crescido ao longos dos anos e estarem previstas na legislação brasileira, através do SUS, o foco delas precisa ser alterado. Atualmente, elas são feitas, como regra, de maneira individualizada, dissociada dos locais de moradia e trabalho de quem é o alvo dos programas e, na hora do atendimento em ambulatórios, quando “dá tempo”. E, na TV, são apresentadas “receitas” que acabam por serem úteis a segmentos muito restritos da população.

Entendo que nosso desafio, do setor saúde, é fazer com que o sistema de saúde seja um potencializador para as demais políticas sociais, como moradia, saneamento básico e educação, que podem alterar este quadro. Ou seja, não devemos apenas lamentar que as “demais áreas não funcionam”. Até hoje, o “setor saúde”, com honrosas exceções, optou por atuar isoladamente. Era o “possível” dentro de governos fatiados entre aliados do mandatário de plantão e com um histórico de afastamento entre as secretarias e ministérios.

Nosso sistema evoluiu muito a partir de 1988, quando as concepções de prevenção e promoção foram incorporadas à Constituição, assim como as de gratuidade, universalidade e integralidade. Muito se avançou e algumas doenças e enfermidades hoje existem apenas em livros de história.

Mas chegamos ao limite desse formato. Agora, é preciso tentar o “impossível”: atuar para diminuir decisivamente a desigualdade econômica e social! Para tal, precisamos que todos os locais possam ter 100% de saneamento básico (como no Água Verde) e precisamos da diminuição da jornada de trabalho, aumentando o tempo livre da maioria da população para a realização de exercícios.

É hora do SUS “dizer” que, além de tomar os remédios, é preciso reivindicar moradia, acesso a educação, trabalho digno e saneamento básico. Desta forma vamos virar significativamente o quadro da saúde pública brasileira.