noticia_219699_img1_greve-ufpr-valquirUma versão mais enxuta desse texto foi publicada no jornal Gazeta do Povo.

Assim como em outras 9 ocasiões nos últimos 15 anos, os trabalhadores técnico-administrativos das universidades federais estão em greve por tempo indeterminado a partir de hoje. Aqui no Paraná, serão paralisados serviços administrativos e de apoio aos estudantes na Unila, na UFPR, na UTFPR e na UFFS.

Mas porque essas greves tem sido tão frequentes? Sabemos que o discurso recorrente de que a educação é prioridade não é realidade e as greves em todos os níveis de governos estão aí para mostrar isso. No caso da educação federal, os técnico-administrativos são os que recebem o menor salário de todo o funcionalismo federal. E em inúmeras vezes foram feitos acordos para reverter isso e tais pactos não foram cumpridos.

Essa é a principal causa das greves se acumularem: os problemas são tantos que acaba ficando difícil resolver eles de uma só vez (claro, estamos falando num contexto de baixo interesse da política hegemônica em resolver definitivamente esses problemas). Desta forma, uma greve é encerrada já com situações que motivariam uma nova greve.

Além disso, em todas essas 9 paralisações que fizemos desde 2000, o modo de negociação do governo federal, seja com FHC, Lula ou Dilma na presidência, foi o mesmo: o executivo demorou no minimo 60 dias para abrir uma mesa de negociação (em algumas ocasiões, como em 2000, 2005 e 2014, nem mesa de negociação foi aberta). Com esse formato, as negociações começam com a categoria já cansada e a chance de se aceitar um acordo que não traz melhoras efetivas é grande.

Nesse ano, além da pauta específica, reivindicamos 27,3% de reposição salarial. Esse índice se refere as perdas inflacionárias que tivemos desde 2011. E isso acontece porque não temos, no âmbito do serviço publico federal, algo que é básico: o direito a data-base, negociação coletiva e reposição anual o minimo pela inflação. Esse direito já existe para todos os trabalhadores contratados via CLT e em vários estados e municípios brasileiros.

Mas no nosso caso não há essas garantias. O governo federal nos recebe se quiser, repõe inflação quando tá afim. E, neste cenário, as greves acabam se acumulando, porque é, infelizmente, a única linguagem que sensibiliza o governo.

Ao longo desses anos, nossas paralisações também serviram para frear projetos mais específicos de desmonte da saúde e da educação pública. Foi assim com a greve de 2001, quando nossa pressão fez com que um projeto que previa a venda de 25% dos leitos dos hospitais universitários (como o HC/UFPR) fosse rejeitado. Em outros momentos, as greves também deram o recado de que queremos direitos e não aceitamos retrocessos, de que queremos ser vistos como trabalhadores da educação fundamentais ao funcionamento da universidade. Nossas greves também sempre trouxeram à tona o problema da falta de funcionários e da crescente precarização do trabalho via contratação de terceirizados e pela falta de materiais básicos, seja o álcool para higienização no HC, seja a falta de materiais de escritório nos setores administrativos.

E agora, em 2015, nossa luta se insere num contexto de um gigantesco corte orçamentário na educação federal, que vem praticamente paralisando o funcionamento das instituições federais de ensino (na UFRJ, a maior universidade federal do país, as aulas tiveram seu início adiado por várias vezes pela falta de limpeza e condições de higiene fruto do não-pagamento da empresa terceirizada que faz este serviço). Seremos mais uma categoria ao lado de tantas outras que já estão lutando contra esse ajuste fiscal que só corta de um lado.

É por tudo isso que tenho tranquilidade em afirmar que nosso movimento é justo e merece o apoio de toda a sociedade ou, pelo menos, daquela parte que sonha com um país em que a educação como prioridade não seja mais apenas discurso.