canada_pan_am_games_s_amar_3-563x353Não vi a novidade ao vivo, mas fiquei sabendo pelas redes sociais: no Pan-Americano de Toronto, diversos atletas brasileiros batem continência ao receber suas medalhas no pódio. Sim, batem continência, aquilo que a gente imagina que só acontece dos quarteis para dentro.

E isso vem acontecendo logo após o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) proibir a atleta Joanna Maranhão de emitir “opiniões políticas” pelas redes sociais. O contraste ficou evidente: bater continência é permitido ao mesmo tempo que criticar a redução da maioridade penal é proibido.

Com a polêmica instalada, as justificativas começaram a aparecer. E elas são bastante simples: dos 600 atletas brasileiros que estão no Pan, cerca de 120 tem vínculo com as Forças Armadas. Na ausência de políticas públicas por parte do Ministério do Esporte e fruto da realização dos Jogos Mundiais Militares no Rio de Janeiro (em 2011), muitos atletas acabaram se “militarizando”, como única forma de continuar sua carreira. Isso porque lá eles têm “direito a soldos, 13º salário, locais para treinamento, participação nas competições do Conselho Internacional do Esporte Militar (CISM), além de plano de saúde, atendimento médico, odontológico, fisioterápico, alimentação e alojamento“.

Essa situação evidenciou, mais uma vez, a precariedade na preparação dos atletas brasileiros. O problema não é, obviamente, termos atletas militares. A questão é obrigarmos os atletas a serem militares porque essa é a única forma (ou quase a única) de serem atletas olímpicos.

Só que esse investimento das Forças Armadas no esporte não trará refresco para nossa situação geral. Como já colocado anteriormente, “É preciso que o esporte olímpico seja praticado em todo o Brasil, por gente que o faz com muita qualidade mas também por aqueles que são medianos. É olharmos para o altíssimo rendimento com um certo desprezo que vai possibilitar uma geração de atletas que, eventualmente, vão chegar ao nível de alto rendimento e poderão “render” medalhas olímpicas. Essa é a contradição: para ter atleta olímpico de verdade não se deve ter foco no atleta olímpico.”

E, apesar do relato dos atletas de que a continência não é obrigatória, não dá pra negar que esse ato é também um ato político (as declarações do brigadeiro Carlos Amaral reforçam isso). Ou seja, ele descumpre a norma do COB de que não devem haver manifestações políticas por parte dos atletas. É, portanto, uma boa oportunidade para o Comitê Olímpico abolir essa norma anti-democrática. Quem sabe isso tudo gere algo positivo…

P.S.: Joanna Maranhão é uma das atletas militares.