Autobus turisticoPublicado originalmente no Blog Amenidades

O título desse texto deveria ser “Crônica de uma sociedade heteronormativa” mas avaliei que poderia fugir um pouco do aspecto que dá nome ao blog. Por isso escolhi, como título, a frase que venho dizendo, sempre, desde o mês de agosto de 2003, quando fiz a primeira viagem Curitiba-São Paulo de ônibus, um evento que se tornaria rotina.

Nesses 12 anos, foram muitas viagens, para reuniões partidárias, aulas de mestrado, visitas a minha irmã e visitas a Renata (no curto período que ela morou em São Paulo). Não dá pra saber quantas viagens foram, até porque esses propósitos todos muitas vezes se confundiram. Mas, segundo o programa fidelidade da Itapemirim, foram mais de 100 viagens, desde meados de 2006. Além dessas, também aconteceram algumas de carro, Cometa e Eucatur e algumas poucas de avião.

E a frase que dá título a esta crônica foi virando um mantra! Com o tempo, percebi que a venda de poltronas segue uma lógica própria: primeiro, por exemplo, são vendidas as poltronas da janela e da parte da frente do ônibus.

Mas a lógica que mais me chamou atenção foi a da poltrona 24: pelo simples fato desse número estar associado ao “viado” no Jogo do Bicho, essa é a última poltrona a ser vendida. Ao perceber isso, passei a comprar sempre a poltrona 23 e na maior parte das vezes viajei com uma poltrona vazia ao meu lado.

E essa não é uma lógica apenas dos viajantes de Curitiba a São Paulo. Também por quase os mesmos motivos que fiz muitas viagens a São Paulo desde 2003, também viajei muitas vezes pelo interior do Paraná. E a lógica é a mesma. Certa vez um amigo duvidou e então perguntamos no guichê sobre a poltrona 24. O vendedor não teve dúvidas: e sempre uma das últimas a ser vendida. É inacreditável, mas é isso!

Além da dica para você que vai viajar e quer uma poltrona vazia do lado, fica a reflexão sobre o quão heteronormativa é a nossa sociedade.

*Este texto foi escrito na rodoviária de São Paulo.