moton83Publicado originalmente no Blog Amenidades

No último domingo, 25 de outubro, aconteceram as eleições para presidente e para a Câmara de Deputados na Argentina. Foi uma eleição num cenário bastante diferente das anteriores, tanto pela ausência dos Kirchner na disputa, quanto pelo cenário econômico de crise em que se encontra o país.

A eleição para presidente ainda não foi definida, visto que haverá segundo turno, entre Daniel Scioli, apoiado pela atual presidente Cristina Kirchner, e Mauricio Macri, representante dos setores mais a direita da sociedade. Scioli teve 36,6% dos votos contra 34,5% de Macri, mostrando uma disputa apertada. Além dos que passaram ao segundo turno, destacam-se as votações de Sergio Massa, com 21,1% e de Nicolas Del Caño, da “Frente de Izquierda Y de Los Trabajadores” (FIT), que foi a quarta força, com 3,3% dos votos. E esse último foi um dos resultados mais interessantes dessas eleições.

Depois de anos de divisões e fragmentação, a FIT tem sido um pólo aglutinador das forças de esquerda na Argentina. Foi a única coligação de esquerda que passou pelas primárias e que pode concorrer nas eleições presidenciais neste último domingo (na Argentina, é disputada uma espécie de “pré-eleição” alguns meses antes em que os partidos tem que ser aprovados para a disputa principal e onde também podem ser escolhidos o candidato a presidente de uma coligação. No caso da FIT, Nicolas Del Caño venceu as primárias contra Jorge Altamira de modo surpreendente).

Nestas eleições, a FIT obteve, além de 3,3% para presidente (cerca de 800 mil votos), mais de 914 mil votos para a Câmara Federal, conseguindo eleger 4 deputados federais. Se compararmos com o Brasil em termos proporcionais, a FIT teve o dobro de votos para presidente do que a somatória do PSOL, do PCB e do PSTU e elegeu uma bancada de deputados também muito maior, visto que na Argentina a Câmara é composta por 257 deputados (e no Brasil são 513). Foi também por muito pouco que a FIT não elegeu mais parlamentares: em duas regiões do país, ficou no quase.

E, diferente das eleições anteriores, dessa vez a FIT aglutinou ainda mais setores da esquerda argentina. Inicialmente, a FIT era composta pelo PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas), equivalente ao grupo brasileiro MRT, pelo PO (Partido Obrero), equivalente ao PCO brasileiro e pela Izquierda Socialista, que tem ligação com dois grupos que atuam no Brasil: a CST e a Luta Socialista, ambas correntes internas do PSOL.  Agora, nestas eleições, a FIT também obteve apoio da Democracia Socialista, equivalente a Insurgência, corrente interna do PSOL e do PSTU (Partido Socialista de los Trabajadores Unificado), equivalente ao PSTU no Brasil*.

Ainda com um pequeno crescimento, o resultado da esquerda radical nas eleições argentinas e sua ação unitária deve servir de incentivo para nossa atuação no Brasil, com a construção de frentes de ação unitárias para combater o ajuste fiscal aplicado pelo governo federal petistas e pelos governos estaduais tucanos.

*Vale lembrar que, em se tratando de política argentina, essas comparações são sempre relativas, visto que nossos hermanos tem uma formação política muito particular, com grupos, por exemplo, que se identificam como peronistas, que muitas vezes disputam o poder entre si.