Já está entre nós o primeiro cd do Braseiro, banda formada em Curitiba em meados de 2014. Se pudesse só dizer uma palavra sobre ele, não teria dúvidas: seria “escute”. Isso porque o cd se destaca entre as já destacadas produções recentes de música de Curitiba, combinando uma excelente escolha de repertório com arranjos e execução brilhante das músicas.
O cd tem uma fórmula já conhecida, misturando músicas de compositores já consagrados (como Wilson Batista e Lupicínio Rodrigues) e músicas de compositores paranaenses. E o cd se destaca nos dois momentos.
Nas faixas de compositores já conhecidos, as músicas gravadas são desconhecidas do grande público, mostrando que a turma do Braseiro não usou isso como uma tentativa de atalho para que o seu primeiro cd pudesse ficar mais vendável. E, nas faixas de compositores paranaenses, a escolha foi primorosa, mostrando o que há de melhor em termos de produção local: sambas que falam da realidade de modo crítico, atuais e com lindas melodias.
E o que é mais legal é que esta produção é fruto de um trabalho coletivo, visto que quase todas as músicas escolhidas pelo Braseiro foram apresentada nas rodas do Samba do Compositor Paranaense (SCP), projeto que já existe há mais de 6 anos e que está próximo de chegar a sua 200ª roda de samba. Além de reunir e dar voz aos bambas da cidade, de criar parcerias que antes não existiam e de mostrar o samba existe em Curitiba, agora também podemos imputar ao SCP a responsabilidade por um cd incrível.
Infelizmente, ainda é pouco para que esse projeto e o cd do Braseiro saiam dos muros do Paraná. Isso porque o mercado fonográfico do samba é concentrado basicamente no eixo Rio-SP e eu diria que há até um certo preconceito com o que vem de fora daí, como se não fosse possível produzir algo de excelente qualidade também em Curitiba.
Por isso, é nossa missão ajudar para que o Braseiro consiga furar essa bolha. Ajudar que o Braseiro faça aquilo que os batuqueiros liderados por Maé da Cuíca (da escola Colorado) fizeram nos anos 1970, quando foram até o Morro da Mangueira e ganharam um concurso de samba de terreiro. Com a bolha sendo furada por essa produção qualificada, certamente o cenário vai se abrir e poderemos ter o samba produzido em Curitiba tocando nas rodas do eixo Rio-SP e do Brasil afora.
Faço votos de que os cariocas e paulistas dispam-se um pouco dos seus pré-conceitos e escutem esse disco. Certamente eles vão agradecer por isso!
Aproveite e escuta dois sambas paranaenses gravados pelo Braseiro:
