beto_richa18Há dados muito interessantes na mais recente pesquisa realizada pelo instituto Paraná Pesquisas divulgada nesta segunda-feira, 21 de dezembro, pelo jornal Gazeta do Povo. Foram feitas perguntas acerca do cenário político e também sobre as eleições 2018. Comento aqui a parte sobre o cenário político, visto que a pesquisa para governador não merece tanto destaque, já que ainda estamos ainda muito longe da eleição e não há candidatura do PSOL na jogada, o que é uma forma de manipular o processo desde já, como já coloquei em outro momento. Sobre ela, o comentário do sempre atento Luiz Domingos já me contempla.

No âmbito estadual, o que podemos perceber é que boa parte da população paranaense se sente traída por Beto Richa. Ao serem perguntados sobre o andamento do governo Richa perante as expectativas iniciais, 65,1% dizem que o governador está pior do que esperava e 63% dos eleitores de Beto Richa dizem que não votariam novamente nele, cerca de 1 ano e meio depois das eleições que deram a ele uma vitória em primeiro turno, com cerca de 55% dos votos.

Talvez isso explique porque as mobilizações contra o “pacotaço de maldades” de Richa foram maiores do que em outros estados (como RJ, RS e DF) onde pacotes semelhantes (ou até piores) foram aplicados. No Paraná, Richa foi reeleito ; logo, o discurso de dizer que havia uma “herança maldita” não colou (já que esta herança era dele mesmo). O governador dizia que “o melhor ainda estava por vir”. Já nesses outros estados foram eleitos candidatos de oposição (como no RS e DF) ou outro nome, ainda do que mesmo grupo (como no RJ). De qualquer forma, toda essa situação mostra que o estelionato eleitoral tem sido uma regra, visto que nenhum candidato falou em cortar salários ou em “meter a mão” no dinheiro da Previdência durante a campanha eleitoral.

Ainda no âmbito do governo estadual, vale registro que a desaprovação de Richa chega a 71,2%, um índice menor do que os 84,7% de junho de 2015. Os números mostram uma recuperação muito tímida do tucano, mesmo após a realização de obras e com a diminuição dos protestos contra o governo. Ou seja, a maior parte dos paranaenses vai mostrando que tem sim memória e que não esquecerá dos graves episódios do primeiro semestre de 2015.

A pesquisa também fez perguntas relativas a Dilma e Cunha. E os dados mostram que o paranaense não tem caído no fla-flu de PT x PSDB ou de Dilma x Cunha. Ainda neste cenário, os números mostram algum fôlego para Dilma. Isso porque há mais gente querendo a saída de Cunha do que de Dilma. Vejamos…

A desaprovação de Dilma está em 84,4%, um pouco menor do que em junho de 2015, quando atingiu 87,1%. Mas “apenas” 62,4% dos paranaenses apoiam o impeachment. Ou seja, há cerca de 20% dos paranaenses que não se sentem representados pelas ações de Dilma no governo mas que nem por isso querem o impeachment. E aí vem o dado mais interessante, porque tem a ver com as possibilidades de mobilizar as pessoas em relação a este tema: 71,4% identifica que um eventual impeachment não é golpe.

Ou seja, a palavra de ordem lançada pelos setores mais governistas dos movimentos sociais, além de errada, não “vai pegar”. É algo semelhante a palavra de ordem acerca da (necessária) luta contra a privatização da Petrobrás usada por estes mesmos setores em 2015; aos olhos da maior parte da população, gritar “Em Defesa da Petrobrás” significa defender a corrupção instalada na empresa. Por outro lado, para estes mesmos setores, falar explicitamente em “privatização da Petrobrás” fica mal, visto que aí teriam que relembrar os leilões de Dilma e, bom… criticar o governo é “coisa de golpista” e etc etc…

Por fim, o grand finale, sobre Eduardo Cunha. Num país polarizado, ele é quase uma unanimidade. Como colocou o sagaz repórter Chico Marés, da Gazeta do Povo, o presidente da Câmara “não tem o apoio de quase ninguém”. Apenas 8% dos entrevistados são explicitamente contra o seu afastamento (e 82,7% são a favor). Apesar disso, a saída de Cunha não está hierarquicamente à frente da saída de Dilma: ao serem perguntados quem deve sair primeiro, 32,% responderam “ambos”, 32,2% responderam “Dilma Roussef como presidente do Brasil” e 31,4% falaram “Eduardo Cunha como Presidente da Câmara”. Ou seja, uma diferença menor do que a margem de erro.

A pesquisa de opinião mostra que há espaço para a construção de uma alternativa de esquerda, que se coloque em oposição tanto a Beto Richa como a Cunha e Dilma. Para tal, as frentes “Povo Sem Medo” e “Espaço de Unidade e Ação” podem ter um papel fundamental. Estou entre aquelas que entendem que é preciso estar nas duas frentes, pois uma pode ter um papel de fortalecer um campo de uma esquerda já historicamente combativa e oposicionista aos governos do PT e outra pode contribuir e muito para aproximar mais setores desse campo.

Para aqueles que insistem na defesa do governo sob o argumento de que já estamos derrotados e que a derrota de Dilma irá arrastar toda a esquerda junto, vou ser bem explícito: é exatamente por isso que aqueles que desejam construir uma esquerda que vá além da “ex-querda atual” não podem dar um abraço de afogado em Dilma e no PT. É necessário se mobilizar e construir em alternativa a estes setores (ainda que em alguns momentos seja inevitável estamos em aliança, especialmente pela presença de segmentos petistas em muitos sindicatos de categorias importantes de trabalhadores). É desta forma que plantaremos, desde já, algumas sementes que podem ajudar no combate ao conservadorismo e ao ajuste fiscal num futuro próximo.

Clique aqui e confira a pesquisa sobre Beto Richa e aqui para ver os dados sobre Dilma e Cunha.