CanceladoNos últimos dias, veio a público uma decisão da Prefeitura de Irati de cancelar o carnaval na cidade. Ao mesmo tempo, um vereador fez uma proposta parecida em Paranaguá. Essas decisões acabaram por concretizar uma campanha que já existe na internet há algum tempo. Tal situação já aconteceu de modo semelhante em 2015.

E a campanha e essas decisões estão erradas. São hipócritas e elitistas. Por vários motivos.

Do ponto de vista fiscal, o gasto com carnaval representa um valor muito pequeno perto do que as Prefeituras gastam com propaganda, dívidas indevidas e injustas (e que precisam ser auditadas) e remuneração de serviços privados. Ainda nesse campo, é preciso registrar que parte do gasto com os festejos é revertido por conta da maior arrecadação de impostos devido ao incremento de comércio, hotéis, etc. Mas, sinceramente, isso é o que menos importa.

O mais relevante é que o cancelamento do carnaval esconde uma visão elitista do papel do poder público em relação a cultura. Isso porque o carnaval de rua é uma festa bastante popular e para muitos é a única acessível. É também uma festa transgressora. E isso incomoda muita gente.

Nas redes sociais, a maior parte dos que aplaudem o cancelamento do carnaval serão aqueles que irão viajar e se divertir em outras cidades. Aí fica fácil crucificar o incentivo público neste caso.

Além de tudo isso, a ausência do poder público favorece a privatização (e consequente elitização) da festa. Em algumas cidades, como Curitiba e Rio de Janeiro, as Prefeituras fizeram acordos com uma cervejaria e aí só se pode vender uma marca de cerveja durante os eventos. Quem ousa vender outra marca, é reprimido (como aconteceu recentemente no pré-carnaval carioca).

Apesar de defender o apoio do poder público para as festas carnavalescas, é preciso reconhecer que muita coisa errada tem sido feito. Em Curitiba, por exemplo, a Prefeitura contratou o Monobloco, que desfila no Rio de Janeiro, para animar o primeiro desfile do pré-carnaval. Nesse caso, acho que o dinheiro usado para tal contratação poderia ser melhor utilizado se servisse para fomentar e fortalecer os grupos locais, especialmente as escolas de samba, que até o momento não receberam a verba prometida para 2016.

Por fim, é preciso dizer com todas as letras: é sim possível fazer festa em tempos de crise. Eu diria que é ainda mais necessário. Se, nesta sociedade bruta em que vivemos, não pudermos ter nossos dias de extravaso, vamos todos acabar confinados e deprimidos.