Com Ricardo Barros teremos um "adeus" ao SUS?

Com Ricardo Barros teremos um “adeus” ao SUS?

Depois de dizer que “a fé move montanhas” ao comentar sobre a “pílula do câncer“, o novo Ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), afirmou que é preciso rever o “tamanho do SUS”. As afirmações assustaram a todos e todas que defendem a construção do SUS (Sistema Único de Saúde) como uma política universal de acesso a saúde. Ninguém esperava muitas coisas boas de Barros como Ministro, mas a “sede” com a qual ele “tem ido ao pote” deixou muita gente de cabelo em pé.

Ricardo Barros é membro de uma oligarquia tradicional da política paranaense. É marido da vice-governadora Cida Borghetti, pai da deputada estadual Vic Barros e irmão de Silvio Barros II, que foi Secretário de Planejamento de Beto Richa e já foi Prefeito de Maringá. Ricardo é tio de Juliano Borghetti, ex-vereador de Curitiba, demitido do governo Beto Richa por envolvimento com a Operação Quadro Negro. Foi vice-líder dos governos Lula e Dilma na Câmara dos Deputados. Nos finalmentes do governo Dilma, chegou a ser cotado para o Ministério da Saúde, que agora ocupa na gestão de Temer.

Mas Barros não está neste Ministério porque é um especialista do setor. E isso nem tem a ver com o fato dele ser engenheiro, visto que não são apenas os médicos que entendem da área. O real objetivo do novo Ministro é garantir, a partir do estrangulamento do SUS, os interesses de seus financiadores: a maior doação de sua campanha veio de Elon Gomes de Almeida, sócio do Grupo Aliança, uma administradora de planos de saúde. E o recuo dele, anunciado poucas horas depois da entrevista, não é confiável.

Depois de anos de luta, o direito a saúde foi garantido na Constituição Federal de 1988 e na lei que criou o Sistema Único de Saúde em 1990. Até então, apenas quem tinha carteira-assinada é que tinha o acesso à saúde; ou seja, trabalhadores informais e jovens não tinham direito a cuidar de sua saúde. Num contraponto a isso, o SUS prevê acesso integral e universal, além de uma visão de saúde que não é isolada do restante da sociedade.

De 1988 pra cá, muita luta foi feita para implementar o SUS. Foram anos duros, visto que logo após a sua criação, vivemos sob a hegemonia de ideias que defendem um Estado mínimo. Os governos do PT não ousaram muito nessa área e chegaram a usar o Ministério da Saúde como moeda de troca para construção da “base parlamentar”. Foi também durante os mandatos de Lula e Dilma que foram implementadas novas formas de terceirização da saúde, como as Empresas Públicas (como a EBSERH) e Fundações.

O Ministro da Saúde deveria estar preocupado em como implementar e garantir as diretrizes do SUS, ao invés de dizer que isso é impossível ou que “não cabe” no orçamento. É verdade que temos coisas a rever. Mas, diferente do que diz Barros, são as políticas de uso de dinheiro público na iniciativa privada (principal destino de dinheiro do SUS atualmente) que precisam ser revistas. E, também, pra não esquecer, a presença dessas antigas oligarquias na política.