EF_ministrosaude_reuniao_malaria_05172016_8Publicado originalmente no Notícias Paraná

Certa vez, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) escreveu que ele havia visto uma sessão de sincerocídio na Câmara dos Deputados. Segundo Chico, os deputados se alternavam na tribuna discursando com acusações mútuas, num espetáculo que chocava aos que assistiam.

A definição de sincerocídio parece bastante pertinente para a política brasileira nos dias atuais. Caso a maior parte dos políticos decidisse falar a verdade, muitos deles perderiam mandatos, estariam presos ou, pelo menos, não se reelegeriam. Um bom exemplo disso é o “nosso” governador Beto Richa, que foi eleito dizendo que “o melhor estava por vir”. Se falasse que iria aumentar impostos, pegar a previdência dos servidores e deixar as escolas caindo aos pedaços (e que haveria repressão policial para os que reclamassem da situação), certamente não teria sido eleito.

Apesar da sua experiência política, o ministro da Saúde Ricardo Barros (PP-PR) parece estar sofrendo de sincerocídio. Em menos de 10 dias no cargo, ele já deu declarações que constrangeram até aqueles que não tem nenhum compromisso com a maioria da população.

Nesses dias, Barros já afirmou que o SUS precisa ser revisto (e depois voltou atrás), que é melhor que mais pessoas tenham plano de saúde privado e que não é possível controlar a qualidade dos planos. Junto a isso, foram publicadas reportagens mostrando que o maior financiador individual da campanha de Ricardo Barros para deputado federal foi Elon Gomes de Almeida, sócio do Grupo Aliança, uma administradora de planos de saúde.

As declarações do ministro explicitaram o que há muito dizíamos: as empresas e seus donos não doam dinheiro para campanhas eleitorais, eles investem, esperando um retorno lá na frente. No caso de Barros, seu compromisso é deixar o SUS cada vez mais precário, para que cada vez mais pessoas sejam obrigadas a procurar um plano de saúde. E ele nem se preocupou em disfarçar isso.

Para ser justo, é bem verdade que Barros não está sozinho nesta empreitada. São vários os deputados, vereadores, senadores, prefeitos e governadores que receberam financiamento de empresas que tem interesse político direto, como a AMBEV, empresas de ônibus, indústrias farmacêuticas, empreiteiras, conglomerados da educação privada, etc.

E essas empresas não tem a coloração partidária como regra; elas normalmente doam para todos os candidatos que elas escolhem como sendo os principais (e, óbvio, para os que se sujeitam a isso).

Apesar de nos assustar e mostrar que a luta pelo projeto do SUS e da reforma sanitária brasileira tem que ser retomada e fortalecida, bem que o sincerocídio de Ricardo Barros poderia vir pra ficar e se expandir para outras áreas do governo federal e também dos governos estaduais e municipais.