A luta pelo #ForaCunha aconteceu nas ruas e no Parlamento.

A luta pelo #ForaCunha aconteceu nas ruas e no Parlamento.

Publicado originalmente no site do PSOL-Curitiba na noite do dia 13/06/2016

Por Sérgio Ferreira*

A narrativa que conta a vitória do pequeno Davi contra o gigante Golias, serve muito bem de analogia para ilustrar a parcial vitória do povo brasileiro, ocorrida hoje no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. O grande Golias, Eduardo Cunha, vinha somando vitórias em cima de vitórias a seu favor. Passava por cima de tudo e de todos. Fez o que quis. Coordenou o crime organizado na esfera da política nacional. Por vingança, foi o principal articulador do afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Colecionava títulos e esnobava seus adversários e inimigos. Ria sarcasticamente da cara do povo brasileiro. Alguns o aplaudiam. “É meu bandido favorito”, falavam os desvergonhados. Mas, nada é para sempre.

A queda do gangster, como disse o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) na votação do impeachment, acabou de começar. E aqui vale com muita justiça considerar o trabalho e honra de um pequeno em tamanho, mas grande na ação, partido brasileiro, o PSOL, Partido Socialismo e Liberdade, que surgiu a partir da expulsão de alguns deputados do PT, logo que começou o governo Lula. Eles não concordaram com a reforma da previdência imposta pelo Partido dos Trabalhadores contra os trabalhadores. Acreditavam, e com razão, que seria um retrocesso para os trabalhadores brasileiros. Votaram contra. Foram expulsos. O PT aprovou a reforma com a ajuda amiga de alguns deputados de setores conservadores. Surgiu o mensalão petista, uma prática muito usada pelos tucanos.

Surge o PSOL. Com uma proposta de uma oposição programática de esquerda. Passa a ser acusado, muitas vezes pelo PT, de fazer o jogo da direita. Não se deixa abater pelas críticas vazias de quem de fato estava abraçado com a direita e fazia o jogo que lhe derrubaria. Foi firme em suas convicções e andou pelo mesmo caminho dos ideais que defendeu antes de o PT alcançar o poder. Uma briga contra gigantes. Gigantes da direita e gigantes de uma dita esquerda esquizofrênica, rendida, que se entregou ao fisiologismo que um dia tanto criticou. Era preciso a tal governabilidade. Para isso, salve Sarney, salve Renan, salve Cunha, salve Maluf, salve Collor e salve o diabo se preciso fosse. Entre mocinhos, bandidos e frankensteins, o PT errava, não fazia a autocrítica e cavava sua sepultura, por pura arrogância e prepotência que o poder oferece. E assim seguiram os anos…

Atualmente o PSOL conta com apenas seis deputados federais: Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Glauber Braga (RJ), Edmilson Rodrigues (PA), Jean Willys (RJ) e Luiza Erundina (SP). Mas a quantidade não tem sido empecilho para o partido exercer a principal função parlamentar: FISCALIZAR. E assim tem sido. São inúmeras ações propostas pelo partido no sentido de fiscalizar o executivo e também o próprio legislativo. Uma delas foi essa ação proposta no Conselho de Ética que pedia a cassação do deputado Eduardo Cunha. O PSOL pediu apoio para vários partidos assinarem juntos a representação, mas somente o partido REDE assinou. O PT ainda fazia o jogo do Cunha. E foi justamente esse pedido de cassação que culminou na vingança de Cunha contra o PT.

Ao declarar voto pela abertura do processo, o PT decretou a ruptura definitiva com Cunha, que já vinha ameaçando a sigla petista. Foi a gota d’água. Cunha retaliou. Aceitou um engavetado pedido de impeachment. Deu no que deu. Dilma está afastada e o PMDB tomou o poder de assalto com apoio do PSDB, DEM e outros tantos partidos que serviram ao golpe disfarçado de legalidade. Foi o PSOL que causou a derrocada da aliança Cunha/PT. Foi o PSOL que deixou a rainha nua e agora deixa o rei.

Abandonado pelos partidos de centro e da direita, o PT busca hoje abrigo na esquerda, de onde o PSOL nunca saiu. Na defesa contra o processo de impeachment os deputados PSOListas foram coerentes. Defenderam e com muita qualidade a democracia. Acusaram o golpe. Continuam denunciando o ilegítimo governo de Michel Temer. O PSOL defende que o mandato seja de quem foi eleito democraticamente e alguns setores do partido defendem a possibilidade de um plebiscito para o povo decidir se quer ou não uma nova eleição.

Hoje Cunha teve sua primeira grande derrota na Câmara. Por 11 votos a 9 foi aceito o relatório que pediu a cassação do todo poderoso deputado. Agora a votação vai ao plenário. É preciso manter a pressão popular. Mesmo a proposta sendo do PSOL, é o povo que tem dado sua rejeição para que os deputados não salvem Eduardo Cunha. A vitória é do POVO!

Quanto ao PSOL, deve continuar defendendo o que sempre defendeu. Acreditar que precisa crescer sim, mas crescer com qualidade de militância. Sem vender seus ideais para chegar ao poder. É por isso que deve lutar. Saber que está exposto aos perigos do caminho político. Muitas armadilhas podem surgir. Muitos erros pode cometer. Mas, é preciso estar atento e manter o foco naquilo que propõe na política. Fazer a autocrítica quando for preciso e saber comemorar as batalhas vencidas.

Hoje o gigante Golias vai dormir pensando no pequeno Davi!

*Sérgio Ferreira é  jornalista, aprendiz de poeta e membro do Diretório Municipal do PSOL-Toledo/PR.