protesto_dc_estudantes_2Por Demian Melo*

As Organizações Globo da família Marinho são um das mais perigosas inimigas da educação brasileira. Através de sua rede de veículos na imprensa escrita, rádio e a maior rede de televisão nacional, constituem o maior monopólio midiático do país, capaz de pautar a agenda do debate público e construir a hegemonia burguesa. Sua atuação se estende ao conjunto das classes dominantes brasileiras, sendo João Roberto Marinho um dos mais importantes ativistas do grande capital, tendo seu nome associado ao Instituto Millenium, importante think tank liberal brasileiro. Além disso, ao lado de outros importantes grupos econômicos, atua na promoção do movimento “Todos Pela Educação”, projeto de amplo alcance hegemônico na constituição de uma subjetividade adequada ao capitalismo brasileiro e de subordinação da política educacional aos ditames do mercado.

Assim, não é surpreendente que neste domingo o jornal O Globo tenha publicado um editorial destinado a atacar as universidades públicas brasileira, taxadas como parte de um “sistema injusto”. A base da argumentação de O Globo é a mesma de sempre: a partir da falácia de que apenas a “elite econômica” estuda nas universidades públicas, ataca a gratuidade do ensino superior. O argumento é perigoso e sedutor – “que os ricos paguem mensalidades” – e nada mais é do que a velha campanha de implantação no Brasil de um sistema universitário igual ao dos EUA, tendo por modelo o sistema universitário americano.

Durante a ditadura militar, os chamados acordos MEC-USAID já recomendavam a privatização do ensino superior, e não fosse a rebelião estudantil dos anos 1967-1968 esse intento teria sido realizado. Ainda que derrotada com o AI-5, nem a ditadura militar teve coragem de acabar com o ensino superior gratuito. As lutas contra essa mesma ditadura fortaleceram as posições na sociedade civil favoráveis à manutenção das universidades públicas, sendo este direito consagrado na Constituição de 1988, que com todas as limitações apontou para que no Brasil se constituísse um “estado de bem-estar social”. Não por acaso na década seguinte a implantação de políticas neoliberais teve como procedimento a liquidação legislativa das conquistas consagradas na Constituição de 1988. A grita da burguesia pelo fim das universidades públicas no Brasil seguia os ditames do Consenso de Washington, reverberado nos principais órgãos da imprensa, afirmava como nova bossa a necessidade de privatizar tudo, acabar com tudo que fosse público e transferir para a “iniciativa privada”, eufemismo com o qual o grande capital se apresenta.

As lutas dos trabalhadores e de várias gerações de estudantes das universidades públicas brasileiras foram fundamentais para que hoje continuem a existir tais estabelecimentos de ensino, pesquisa e extensão, que são as melhores do país. Mesmo com a transferência brutal de recursos públicos para o ensino superior privado durante o último período, a manutenção de universidades públicas como as que existem no Brasil é uma conquista democrática. Somente aqueles nunca tiveram nenhum compromisso com o povo brasileiro atacam um patrimônio dessa importância. É por isso mesmo que foram imperdoáveis os cortes brutais no orçamento da Educação feitos no início do segundo mandato de Dilma, que desembocou numa longa greve de resistência nas universidades federais em 2015.

O editorial de 24 de julho de 2016 de O Globo não é um raio em céu azul, e sim mais manobra de uma longa guerra de posição que a grande burguesia brasileira vem travando pela destruição da universidade pública brasileira.

Não passarão!

*Demian Melo é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). Publicado originalmente no Facebook.