Xênia Mello, candidata pela Frente de Esquerda, na Conferência que a escolheu candidata.

Xênia Mello, candidata pela Frente de Esquerda, na Conferência que a escolheu candidata.

As eleições municipais de 2016 acontecem numa situação política muito diferente. Isso porque estamos em meio a um processo de impeachment capitaneado por setores abertamente conservadores, que vem se colocando contrários a qualquer ideia de coletividade ou solidariedade. Outra característica do nosso momento atual é uma maior polarização da sociedade, com mais segmentos opinando e se interessando pelos acontecimentos políticos.

Será uma eleição municipal em que os temas nacionais terão muita força. E, obviamente, em Curitiba não será diferente. Por aqui, ainda temos mais elementos, pelo fato da cidade ser a sede da Operação Lava-Jato e pela rejeição que por aqui também sofre o PSDB, especialmente após os episódios do dia 29 de abril de 2015.

Na esfera municipal, estamos sob uma gestão que foi eleita em 2012 sob o desejo de uma mudança e um basta ao grupo que ocupou a Prefeitura durante 20 anos e com apoio do PT. Essa mudança não se concretizou, ainda que o prefeito tinha tido muitas chances para efetivar algumas questões, especialmente na área do transporte coletivo. A marca da gestão de Fruet é a inoperância. Uma Prefeitura que não resolveu os problemas urgentes, muito menos ousou mexer em problemas estruturais/históricos.

Este cenário local, aliado ao nacional, abriu espaço para que surgisse uma movimentação pela volta a uma suposta cidade limpa e organizada. Sabemos que esse discurso é mentiroso e que os problemas de hoje são frutos de muitos e muitos anos de gestões municipais que valorizaram o já valorizado, fazendo com que a desigualdade fosse cada vez maior.  Mesmo assim, o discurso de voltar para trás tem ganhado espaço e é simbolizado especialmente pela candidatura de Rafael Greca, que foi prefeito entre 1993 e 1996 e é apoiado por Beto Richa e Luciano Ducci, os grandes derrotados de 2012.

Greca soube construir isso. Apagou de sua história política sua desastrosa gestão a frente do Ministério do Turismo na era FHC, se filiou a um partido de aluguel sem envolvimento direto com o cenário nacional, construiu um discurso raivoso contra a atual gestão e articulou apoios nos bastidores. Conseguiu uma aliança que envolve DEM, PSDB, PSB, PTN e PTdoB. Ainda que outras candidaturas venham com o mesmo perfil, como Ney Leprevost (do PSD, já apoiado por PSC, PCdoB, PTC, PPL, PEN e PSL) e Maria Vitória (do PP, já apoiada pelo PR, PMB e talvez SD), é Greca quem deve capitalizar o voto dos que sonham com uma Curitiba dos anos 1990, que, na real, nunca existiu. Mas, diante da péssima gestão atual, Greca acaba aparecendo como uma boa lembrança.

Com o crescimento de Greca, o discurso de Fruet ficou espremido. Ele bem que tentou ter o apoio de Beto Richa, mas acabou sendo preterido. É um dos poucos candidatos a reeleição que não agregou para si uma grande coligação. Deve ter o apoio apenas de PV, PTB, PRB (aquele que tinha o vereador da mão que escorrega) e talvez do PPS. Ainda embolando o meio de campo temos o deputado Requião Filho, do PMDB, que contará com o apoio do REDE (foi preterido, de última hora, por PPL e PCdoB). Na Convenção do PMDB, Requião contemporizou e disse que o lernismo nem foi tão ruim.

Mas não haverá só candidaturas com perfil conservador em nossa cidade. Teremos também campanhas identificadas com uma visão crítica ao planejamento da cidade e ao lernismo, levantando bandeiras de esquerda. O PT tentará ocupar este espaço, algo que não acontece pelo menos desde o ano 2000, já que em 2004 o PT teve apoio do PTB e do PMDB, em 2008 a candidatura de Gleisi fazia elogios à gestão de Beto Richa e em 2012 houve o apoio a Fruet. Tem como candidato o deputado estadual Tadeu Veneri, que tem uma história de lutas sociais e que é o único deputado da Assembleia Legislativa comprometido com o apoio a movimentos sociais. Ele, que havia tentado ser candidato em 2008 e 2012, representará o PT no pior momento de sua história e terá que responder por situações que discordou internamente na maior parte das vezes. O que ainda não está explícito é se Tadeu conseguirá ser Tadeu na eleição ou se apenas defenderá seu partido das críticas que irá receber.

Se Tadeu poderá vacilar, certamente não temos dúvida sobre a capacidade e possibilidade de Xênia Mello em defender um programa político de esquerda. Até o momento, o nome de Xênia, o programa de sua candidatura e o PSOL foram capazes de aglutinar uma ampla Frente de Esquerda em torno de si. A primeira candidata feminista a Prefeitura de Curitiba já conta com apoio do PCB, da Esquerda Marxista, da NOS (Nova Organização Socialista), da PartidA, do RAIZ e do MAIS. Mais do que um amontoado de siglas, esses apoios mostram um potencial para construir uma saída à esquerda para a atual crise econômica e política.

A aliança em torno do PSOL mostra, também, que o PT não é mais capaz de aglutinar em torno de si os lutadores sociais. Ainda que muitos movimentos sociais ainda mantenham sua referência no PT, o que temos visto é, cada vez mais, uma reorganização da esquerda por fora do PT, especialmente entre os mais jovens. E isso é fundamental, visto que vemos que a sigla “PT” é capaz hoje de fechar diálogo com uma parcela ampla da população, que não gosta do governo Temer e se sente traída pela distância entre o discurso e a prática petista.

Pela primeira vez desde a sua fundação, o PSOL entra nessas eleições em Curitiba com uma chapa forte de candidatos e candidatas para a Câmara Municipal. Além de numerosa, com 28 membros, ela abarca diversas pautas e propostas, representando as mais diversas lutas sociais que acontecem na cidade. Uma chapa que atuará unida e sem crises, diferente do que aconteceu nas chapas do PCdoB e do REDE, que viram uma série de desistências após as escolhas das direções desses partidos.

Os desafios para a Frente de Esquerda serão imensos: tempo de TV minúsculo, possibilidade de não estarmos nos debates televisivos e restrições cada vez maiores para as campanhas militantes. Mas temos certeza de que o esforço de construção de uma alternativa coerente será recompensado.