ebserhO recente fechamento de 94 leitos do Hospital de Clínicas da UFPR, maior hospital público do estado do Paraná, trouxe ao grande público uma situação já conhecida por aqueles que trabalham e/ou convivem com a situação cotidiana do hospital.

A atual crise é causada por uma ação judicial que impede a realização infinita de horas-extras por parte de trabalhadores da Funpar e por uma medida do governo federal que diminui o número de APHs (Adicional de Plantão Hospitalar) que o HC pode usar por mês. Com tais decisões, os leitos tiveram que ser fechados pois não há profissionais suficientes para completar as escalas.

A medida mostra uma situação que já estava para estourar há anos: muitos dos leitos do HC só se mantinham abertos pelo uso das horas-extras e dos APHs. Neste caso, as horas-extras não eram exatamente extras, visto que, sem elas, o funcionamento do hospital não seria pleno.

Para resolver tal situação, a receita é simples: concurso público. E aí é que entra o nó, visto que o governo federal se nega a fazer concurso pelas regras tradicionais, visto que defende que os hospitais sejam geridos pela EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), empresa pública de direito privado criada em 2011.

Acontece que a lei que criou a EBSERH estabelecia que esta deveria ser aprovada pelos Conselhos Superiores de cada instituição (inclusive alguns deputados* votaram a favor do projeto por conta deste dispositivo). O governo contava que aprovaria a EBSERH em todos as universidades (como fez com o REUNI em 2007), mas não foi isso que aconteceu. Várias universidades ainda estão debatendo a EBSERH (como a UFRJ, que tem 7 hospitais universitários) e a UFPR é uma das universidades que negou a EBSERH.

A decisão da UFPR foi encaminhada após amplo debate, com várias sessões do Conselho Universitário que debateram o tema, além de debates e conversas promovidas pela comunidade. A UFPR não fez nada demais, apenas definiu sua posição sobre a EBSERH, algo que a própria lei permite.

Nesta situação de penúria, onde a falta de 600 funcionários é apenas mais um dos problemas, é preciso uma ampla campanha de resistência e defesa do caráter público e universitário do HC. O sindicato dos trabalhadores já vem fazendo a sua parte mas é preciso mais: já passou da hora do Conselho Universitário da UFPR fazer valer sua decisão, entrando na luta contra a EBSERH, exigindo concurso público e também a convocação dos profissionais já aprovados em outros concursos (medida já adotada pela UFRJ).

A derrota da EBSERH é o primeiro passo para voltarmos a ter a chance de construir um hospital universitário de verdade, com condições de trabalho dignas e que a existência de luvas, papel toalha e lixeiras nos setores de trabalho não sejam dádivas eventuais.

*No dia 07 de setembro de 2011, durante o Grito dos Excluídos, o deputado federal Dr. Rosinha (PT) me disse que votaria a favor do projeto visto que “a autonomia das universidades estava garantida”.