tn_620_600_Protesto_1011051No dia 17 de junho de 2013, a então recém-formada Frente de Luta pelo Transporte foi recebida por membros do alto escalão da Prefeitura de Curitiba, que se diziam preocupados com a manifestação que ocorreria na noite daquele dia.

A conversa não serviu para praticamente nada, pois os secretários presentes queriam mesmo era saber o trajeto da manifestação, o que acabou não sendo revelado. O mais incrível foi a afirmação, por diversas vezes, de que a Prefeitura apoiava os protestos. Neste momento, ficou evidente o cinismo daquela reunião, visto que os protestos, pela redução da tarifa do transporte coletivo, eram contrários a Prefeitura. Se esta apoiava os protestos, devia é se mexer e atender a pauta de reivindicação.

O que aconteceu depois dessa reunião é mais ou menos conhecido por todos. E, passados mais de 6 meses daquele episódio, é possível perceber que, infelizmente, o cinismo permanece: no primeiro dia de 2014, em entrevista na rádio Band News, o prefeito Gustavo Fruet afirmou que o transporte coletivo na cidade é uma “bomba-relógio”. A afirmação é cínica porque Fruet fala como se não fosse o Prefeito, como se a solução para a “bomba-relógio” não passasse por suas ações enquanto chefe do Poder Executivo. Para Fruet, o problema do transporte ainda é de “terceiros”, como se ele não fosse o prefeito da cidade há mais de um ano.

E, neste ano que passou, muitas foram as chances de Fruet tomar atitudes concretas para desarmar a tal bomba. De janeiro para cá, diversas auditorias e uma CPI da Câmara Municipal mostraram a inconsistência da licitação ocorrida há poucos anos, evidenciando que é preciso suspender esse processo, para que finalmente possamos ter um transporte coletivo de qualidade e com preço justo na cidade.

Além de não atacar os problemas mais estruturais, a prefeitura padece de ações que poderiam gerar pequenos avanços: na hora do inverno, o “kit-frio” atrasou novamente, diversas linhas com trajetos semelhantes continuam passando com horários próximos e a dupla função continua a todo vapor, mesmo com uma Lei municipal a impedindo. Por outro lado, a prefeitura assiste calada a sua ampla base parlamentar aprovar a implementação do “ônibus rosa”, um evidente retrocesso.

Mas, fundamentalmente, em 2013 tivemos grandes mobilizações populares em torno da pauta do transporte. A presença de milhares de jovens e trabalhadores nas ruas mostrou que uma medida radical por parte da Prefeitura seria amplamente apoiada pela população, o que certamente traria reflexos positivos para eventuais disputais judiciais.

A entrevista de Fruet na Band News mostra que, ao optar por um lado e descer do muro, o prefeito deu as costas para a maioria da população e se aliou com os empresários do transporte. Por isso, só a mobilização popular poderá barrar o prometido aumento da tarifa para o mês de fevereiro e desarmar as outras bombas, garantindo uma situação mais estável para o transporte coletivo da cidade.