PIG-free_reproductionNos últimos anos, ganhou espaço (com direito até a página no Wikipedia) a expressão PIG (Partido da Imprensa Golpista), usada para designar a imprensa conservadora brasileira. Criada pelo deputado Fernando Ferro (PT-PE) após um discurso na Câmara dos Deputados e difundida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, a expressão serve também para mostrar como os principais canais de comunicação brasileiros tem um caráter elitista e de oligopólio.

Mas, no cotidiano da militância nos movimentos sociais, o termo PIG serviu também, especialmente por parte dos defensores do petismo, para taxar qualquer crítica aos governos do PT como “conservadora” e a “serviço da direita”. Por isso, é preciso limpar o meio de campo, analisando quem financia o PIG, suas defesas políticas e a estratégia diante da mídia.

Primeiramente, é preciso dizer que, no Brasil, há um dos maiores oligopólios de mídia do mundo e as informações que recebemos de jornais impressos, na televisão ou até mesmo na internet, são em sua ampla maioria gerados a partir de 11 grandes conglomerados, sendo 9 ligados a famílias e 2 ligados a Igrejas. E, vale dizer, o editorial desses veículos, salvo exceções pontuais, tem uma linhagem conservadora, defensora dos valores individualistas, contrário a intervenção do Estado na economia, a favor da flexibilização de direitos trabalhistas, entre outros pontos.

Neste espectro, há ainda veículos que expressam suas posições políticas de maneira mais explícita e outros que procuram se adequar aos “ventos conjunturais”, procurando incorporar posições divergentes, com o objetivo de esvaziá-las. Há vários livros que avaliam esta atuação, como o de José Arbex Jr. e o de Carla Luciana Silva.

Mas o que falta ser dito é que se o PIG existe, ele é da base governista. Obviamente, nenhum defensor do governismo admite isso, pois esse reconhecimento significaria aceitar que os governos de Lula e Dilma estão mais próximos do campo conservador do que do campo progressista e que, apesar de um ou outro avanço pontual, sua linha política geral é pela manutenção das grandes desigualdades existentes no Brasil.

E o caso da mídia é um bom exemplo desse conservadorismo: um dos maiores patrocinadores do PIG é o próprio governo federal, que enche as revistas, jornais e canais de televisão com suas propagandas, de diversos ministérios e empresas públicas federais. Ou seja, quem mantém o PIG vivo e funcionando é o próprio governo federal. Recentemente, uma situação chamou a atenção: o governo federal vai comprar, sem licitação, a revista Nova Escola, da editora Abril (a mesma que mantém a revista Veja), para o Programa Nacional Biblioteca da Escola. A correção da chamada tabela de publicidade implementada durante o mandato de Lula ainda está longe de resolver a desigualdade na destinação de publicidade governamental.

O chamado PIG se comporta como aqueles partidos da “base aliada” com características bastante fisiológicas e que sempre querem mais (são tantos partidos com esta característica que fica difícil citar todos). Na primeira oportunidade, criticam o governo e suas posições, para chantageá-los e arrancar um pouco mais de benefícios. Mas, em momentos fundamentais, são parte da defesa de projetos importantes defendidos pelo governo, como a MP dos Portos, EBSERH, Reforma da Previdência e outros.

Essa situação mostra que ainda precisamos avançar muito na luta pela construção de uma mídia democrática no Brasil. E é preciso ter claro que o governo federal, como conjunto, não é um aliado para esta luta. A força desta batalha está nos movimentos sociais, que cada vez mais identificam a grande mídia como um entrave para suas pautas e reivindicações. Neste contexto, a campanha Para Expressar a Liberdade, articulada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, é fundamental. Nos últimos meses, também ganharam espaço diversos pequenos geradores de conteúdo, com destaque para a Mídia Ninja.

É também uma tarefa nossa fazer a defesa do caratér público das TVs estatais, que hoje servem mais para a defesa dos governos (ou órgãos, como as Reitorias das universidades) que as mantém do que para democratizar a comunicação de fato. No Paraná, por exemplo, os governos de Requião (PMDB) e Beto Richa (PSDB) mantiveram a TV Educativa, cada um a seu modo, a partir de contratos instáveis com os jornalistas, que não podem exercer sua autonomia plena. Em outra ponta, a greve dos trabalhadores da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), ocorrida recentemente, mostra os limites do projeto da EBC, que havia nascido como algo com controle social (ou seja, com caráter de TV pública) e a cada dia perde mais esse caráter.

Precisamos, também, romper com um preconceito acerca dos trabalhadores dessa grande mídia. Para a luta contra os conglomerados de mídia ser vitoriosa, será necessário ganhar os repórteres, jornalistas e demais trabalhadores da imprensa para o nosso lado, mostrando que é possível separar os donos da mídia daqueles que têm estes espaços como seu local de trabalho.