tn_620_600_Fruet_sabatina_130912A afirmação que dá título a este texto foi feita por Gustavo Fruet, prefeito de Curitiba, ao ser indagado pelo jornal Gazeta do Povo acerca da revisão do Plano Diretor da cidade. A pergunta foi feita num contexto onde diversos movimentos sociais e especialistas da área de urbanismo reivindicam que a Prefeitura cumpra o que está previsto em lei para a revisão de um plano diretor: audiências públicas com participação de toda a comunidade.

A frase é sintomática, ainda mais por ter sido dita pouco antes da semana que a Prefeitura, ao invés de negociar com trabalhadores em greve, preferiu acionar a justiça para terminar com o movimento. Pelo “andar da carruagem”, o que parece é que Fruet estava confessando a situação geral da sua gestão na Prefeitura de Curitiba.

Se no período eleitoral seu discurso “mudancista” empolgou e deu esperanças para a população, a prática política da gestão, com pequenas e honrosas exceções, tem sido decepcionante. Entre as áreas decepcionantes, destacam-se três: transporte coletivo, revisão do Plano Diretor e a negociação com os trabalhadores vinculados ao município.

Na questão do transporte coletivo, Fruet vem perdendo a chance, desde meados de 2013, de marcar seu nome na história, como o prefeito que enfrentou os empresários e que reestabeleceu o domínio público sobre o transporte da cidade. Ao contrário, Fruet tem apenas gerido o sistema, acentuando os atuais problemas, tentando empurrar com a barriga para um próximo gestor. Quando pressionado, apenas afirma que a situação é crítica e que o transporte é uma “bomba relógio“. Isso tudo num contexto em que a defesa da revogação do atual contrato ganhou respaldo político, jurídico e, principalmente, popular.

Para a revisão do Plano Diretor, a prefeitura não vem cumprindo o mínimo, que é a realização de audiências públicas democráticas e com participação da comunidade. Ao contrário, a agenda de “oficinas” a serem realizadas pelo IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) teve de ser garimpada para ser descoberta pelos segmentos sociais mais interessados na pauta. Divulgação em ônibus, propaganda na TV, explicação da importância de maneira clara? Nada disso, apenas o cumprimento formal de reuniões em bairros diversos, com a participação quase que apenas de servidores com cargo comissionado.

Outro ponto decepcionante da prefeitura é a consideração com seus trabalhadores. Nesta semana, os dois maiores sindicatos de trabalhadores do município iniciaram greves, devido a falta de diálogo e cumprimento de uma série de reivindicações já apresentadas ao prefeito desde que ele era candidato. Se a greve dos professores liderada pelo SISMMAC foi suspensa devido ao cumprimento de alguns pontos de pauta, a greve dos trabalhadores dos CMEIs liderada pelo SISMUC vem sedo judicializada e criminalizada. Ao invés de dialogar, a prefeitura optou por punir os trabalhadores por lutarem por seus direitos.

A esses três episódios poderiam ser somados outros, como a gestão cultural e os recentes cancelamentos de programas da FCC (Fundação Cultural de Curitiba). O conjunto da situação mostra os limites de um prefeito eleito em acordo com grupos que deveriam ser derrotados por uma prefeitura que tivesse como objetivo a transformação da realidade da cidade. Traz também uma reflexão sobre as eleições ao governo do Estado deste ano, em que candidatos de oposição vem crescendo a partir de acordos com grupos oligárquicos do estado.

A experiência da prefeitura de Fruet nos mostra que não basta ser uma oposição formal. É preciso uma oposição de verdade, que se disponha a governar sem os velhos interessados em se beneficiar com a máquina pública, que se disponha a ser mais do que apenas uma opção “menos pior”.