Reunião da então bancada de oposição com o então prefeito Luciano Ducci.

Reunião da então bancada de oposição com o então prefeito Luciano Ducci.

Em janeiro de 2005, no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, várias militantes, aparentemente do PT, usavam uma camiseta que chamava atenção: “100% Lula” era o que estava escrito em letras garrafais numa camiseta de cor vermelha. Foi nesse momento que escutei, pela primeira vez, a expressão “mais realista que o rei”. Segundo o colega que estava junto, a expressão cabia porque, na verdade, nem Lula é “100% Lula”, visto que provavelmente o então presidente seria crítico a alguns de seus atos. Usar uma camiseta como essa seria, então, ser mais a favor do homenageado do que a própria pessoa.

Essa situação é comum na política brasileira. Entre acordos espúrios e mudanças de lado, aqueles que estão em seu novo lado buscam elogiá-lo mais do que tudo, fazendo parecer que “vestem aquela camisa” desde criancinha.

Atualmente, a Câmara Municipal de Curitiba vive uma situação como essa. Durante muitos anos, a pequena bancada do PT (hoje com 3 vereadores) fez oposição a prefeituras do PSDB, do DEM e do PSB. Entre 2005 e 2012, especialmente Jhonny Stica e a Professora Josete, cumpriram um papel de oposição e de, principalmente, serem aqueles vereadores que se dispunham a dialogar com movimentos sociais e demandas de sindicatos, do movimento estudantil, entre outros. Muitos, em 2012, optaram pelo voto nesses dois vereadores para que este trabalho se mantivesse.

Mas aquilo que já anunciava, pela postura dos vereadores em relação a Copa do Mundo e pela experiência do papel de parlamentares do PT enquanto “base governista”, está acontecendo: a atual bancada do PT se comporta como “mais realista que o rei”. Para isso, deixaram de lado as demandas dos movimentos sociais e passaram a se concentrar na defesa das ações da Prefeitura Fruet.

Em dois momentos isso ficou evidente: na articulação do projeto de lei do Aluguel Social e no recente debate sobre a jornada semanal de 30h para os trabalhadores da saúde do município.

Após a ocupação de uma área em outubro de 2012, os moradores da Ocupação Nova Primavera, organizados pelo MPM (Movimento Popular por Moradia), realizaram diversas reuniões com a COHAB, Caixa Econômica e os proprietários da área, onde ficou combinada a construção de moradias pelo programa “Minha Casa Minha Vida – Entidades”. Para isso, os moradores precisam sair da ocupação durante a construção dos prédios de apartamentos. Por conta dessa situação, o MPM passou a reivindicar a aprovação de uma lei garantindo o pagamento do aluguel social em situações como estas. Nas diversas articulações com os vereadores para a aprovação da lei, a bancada petista tem sido omissa.

Depois de muita luta dos trabalhadores da saúde do município e do SISMUC, a Prefeitura finalmente encaminhou projeto de lei para regulamentar a jornada  de trabalho em 30h semanais. Mas o projeto enviado pelo Poder Executivo excluía os trabalhadores contratados pela Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde (FEAES), contingente que tem crescido muito nos últimos anos. Por conta disso, diversos sindicatos da área articularam uma emenda para garantir as 30h sem distinção de modo de contratação. Por serem críticos, na Assembleia Legislativa do Paraná, ao modelo de Fundação proposto por Beto Richa, esperava-se que a bancada petista votasse a favor da emenda. Mas não foi o que aconteceu e os vereadores do PT votaram unidos contra a emenda, que acabou não sendo aprovada.

Para justificar essas medidas, os vereadores aderem ao malabarismo político, usando dados de orçamento, acusando as emendas de “populistas”, dizendo que “não é possível”. Nada que seria dito se o prefeito fosse de outro bloco partidário e o PT estivesse na oposição.

Quem votou nesses vereadores do PT (ou em outros da coligação PT/PDT/PV, que acabaram por colaborar na eleição desta bancada) com a expectativa de que eles mantivessem sua postura de interlocução com os movimentos sociais, foram absolutamente enganados. O que está acontecendo é justamente o inverso.

Por isso, muita atenção nestas eleições de 2016, para que o mesmo não ocorra na Assembleia Legislativa do Paraná. Para ter certeza de que seu voto será destinado a um deputado que defenda as demandas dos movimentos sociais, dos trabalhadores e da juventude, o melhor é procurar uma alternativa de esquerda como o PSOL.