PT-propaganda-1No começo do mês de maio, circulou na TV uma peça publicitária do PT que ficou conhecida pelo nome de “Fantasmas do Passado”. Do ponto de vista do marketing político, o programa foi bastante elogiado. Mas quero aqui fazer um debate sobre os significados políticos deste programa, que inclusive neste momento se encontra em litígio na justiça.

Desde que assumiu o governo em janeiro de 2003, o PT construiu um discurso de que havia uma “herança maldita” e que não dava “pra fazer tudo de imediato”. Após 12 anos de governo, esse discurso vem se mostrando cada vez mais mentiroso e começa a encontrar contestação, tanto na histórica base social petista, quanto em uma juventude que não comemorou a vitória de Lula em 2002 (quem tem hoje 18 anos tinha apenas 6 anos na época)  e que, portanto, tem pouca (ou nenhuma) relação subjetiva com o projeto do PT.

Do início do governo até hoje, sempre os defensores do governo argumentaram que era preciso consolidar mais o governo para que o “projeto de mudanças” fosse implementado de maneira plena. Sempre havia a proposta de um futuro melhor, com mais “avanços”.

A propaganda do início de maio é uma mudança neste discurso. Pela primeira vez, o discurso petista afirma que o possível é o que está aí, que o possível é apenas garantir que não haja um “retrocesso”. E isso tudo num momento em que até as pesquisas de opinião mostram que há um “desejo de mudanças” na sociedade brasileira.

O discurso petista de agora vai se assemelhando, por mais incrível que possa parecer, com a tese de Francis Fukuyama, acerca do “fim da história”. Para Fukuyama, não haveriam mais lutas pelo fim do capitalismo e a prova disso era a queda do Muro de Berlim e do “Socialismo Real”. Depois de 1989, as lutas sociais seriam todas dentro dos marcos da democracia atual, com o aperfeiçoamento deste modelo.

Ao dizer que o que nos resta é evitar retrocessos, a direção do PT cria o discurso do “fim da história” brasileiro, pois o que nos restou é a manutenção de um governo de coalizão com setores conservadores e oligárquicos da política nacional, onde os bancos são os setores da economia que mais ganham dinheiro e onde ainda temos grandes gargalos em setores como educação, saúde, meio-ambiente, transporte e outros.

Não foi a primeira vez que o PT fez um discurso como esse. Nas eleições de 2008, em Curitiba, a então candidata de oposição Gleisi Hoffmann escolheu “melhorar o que está bom, fazer o que nunca foi feito” como seu slogan. Parecia que ela era a candidata da situação. Resultado: reeleição de Beto Richa (PSDB) no primeiro turno com quase 80% dos votos válidos.

Mas a divulgação do programa já mostrou que ele está errado. Nas redes sociais, muitos militantes do PT se mostraram insatisfeitos com esse discurso, pois ainda querem um governo mais próximo dos ideais de outrora do partido. Ou seja, a própria militância que tem referencia neste governo mostrou que quer mudanças, que quer ver “avanços”.

A construção de uma alternativa partidária ao PT mostra-se cada vez mais necessária, para que a luta por verdadeiras transformações num dos países mais desiguais do mundo se mantenha. Merecemos mais, por isso seguimos lutando!