araupel-mstNeste último domingo tive a oportunidade de conhecer a ocupação realizada pelo MST em uma das fazendas da Araupel (acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio), entre Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu. Essa não foi a primeira vez que visitei um acampamento (ou um assentamento) liderado pelo MST e a mais recente serviu para reafirmar algumas conclusões já feitas anteriormente.

Apesar de simpatizar pela reforma agrária desde muito antes de conhecer um acampamento (o que aconteceu nos idos de 2003, na região de Londrina), sempre ficava receoso por conta de tudo que é falado negativamente sobre os movimentos de luta pela terra: “preguiçosos”, “criminosos”, “vagabundos” e outros tantos xingamentos. Ao conhecer a área coordenada pelo MST em Tamarana (cidade próxima a Londrina), pude perceber que essas afirmações sobre o MST não passavam de mito e eram feitas com base a exceções (que, por sua vez, confirmavam a regra).

Ao visitar assentamentos e acampamentos, conheci trajetórias de pessoas que haviam se esforçado muito para estar ali, numa luta feita em condições muito adversas, embaixo de lonas nas beiras de estrada, na chuva e no frio, apanhando da polícia. Vi que, nesses locais, ninguém “ganha” nada: a conquista da terra é feita a partir de muito esforço. Também vi uma organização coletiva incrível, capaz de organizar centros comunitários, rádios livres, escolas, entre outras questões.

Quando estive em Palmital, no centro do Estado, vi que a reforma agrária era bem vista pela maior parte da população local, pois era esse processo que havia garantido a permanência de muitas famílias na cidade, o que acabou por fortalecer o comércio, evitando também o inchaço das grandes cidades.

Em outra ocasião, vi um militante da coordenação do MST passar uma avaliação dos problemas pelos quais o movimento passa, da dificuldade de convencer aquele que foi assentado de que ele precisa continuar ajudando aqueles que ainda estão embaixo da lona, da dificuldade de conseguir estrutura para fazer os plantios. Fiquei feliz em ver que o movimento também faz suas reflexões e auto-críticas.

Agora, no acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, vi novamente um acampamento muito organizado, inclusive com uma guarita, que restringe em 100% a entrada de álcool e outras drogas (pra evitar qualquer tipo de criminalização do movimento). Vi também milhares de famílias em condições adversas, embaixo de lonas, num dia que havia geado. Mas eram também milhares de famílias certas da justiça e necessidade de sua luta, lutando por seu sonho de viver num país justo e soberano.

Além disso, vi gente insatisfeita com suas tradicionais referências políticas: um acampado me disse que, entre as declarações públicas sobre a ocupação, Gleisi (PT) tinha ido pior do que Beto Richa (PSDB).

Para quem ainda duvida de tudo isso, faço um desafio: ouse abandonar seus pré conceitos e visitar uma área como essa. Certamente, você vai se surpreender.