grecia

Publicado originalmente no Blog Amenidades

No próximo domingo, 05 de julho, os gregos irão escolher, em plebiscito, se o governo do país, liderado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras (da SYRIZA – Coalização da Esquerda Radical), deve aceitar (ou não) as imposições feitas pela Troika (formada pelo Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI). O governo grego defende o voto “não”, contra as imposições da Troika, o que pode significar a saída da Grécia da Zona do Euro.

O plebiscito grego é um exemplo para o restante do mundo. Afinal, em quantos países a população teve chance de opinar de modo direto sobre os acordos de seus governos com instituições internacionais? Na maior parte dos casos, os governos são eleitos mentindo pra população sobre quais compromissos iriam assumir futuramente. E esses compromissos impactam diretamente a vida das pessoas. Na Grécia, por exemplo, a Troika exige corte de aposentadorias, privatizações, diminuição de salários, entre outros ataques aos direitos sociais e trabalhistas.

No calor dos debates, Tsipras anunciou que renunciaria caso o “sim” fosse vitorioso. Isso porque, argumentou ele, foi eleito para não deixar mais a Grécia a mercê dos ditames da Troika, com um programa político que visa garantir direitos aos trabalhadores e a maioria da população. A vitória do “sim” significa a impossibilidade de cumprir este programa. Neste caso, o melhor é renunciar e “começar de novo”.

Agora… já imaginaram se o “método Tsipras” fosse usado pelos políticos brasileiros? Sim, por estes mesmos políticos que tem o estelionato eleitoral como regra! Sem tempo e possibilidade de refletir sobre o que seria de nós com Tsipras na presidência e/ou no governo do estado (onde também temos contratos e acordos vindos de fora que esmagam a possibilidade de termos direitos), foco minha reflexão-brincadeira sobre a prefeitura de Curitiba.

Na campanha eleitoral, Fruet fez discursos raivosos e duros sobre a caixa-preta da URBS e prometeu que, sendo prefeito, abriria tais contratos, com o objetivo de baixar as tarifas de ônibus. Já estamos em julho de 2015, Fruet já governa há 2 anos e meio e até agora o que vimos foi a passagem de ônibus aumentar para R$3,30 (quando ele assumiu, estava em R$2,60), além de termos visto o término da integração com cidades da região metropolitana e a absurda exigência de que todos e todas comprem um cartão para andar em algumas linhas de ônibus (as que não tem cobrador).

E não dá pra dizer que Fruet não teve oportunidades de fazer diferente. De janeiro de 2013 pra cá, tivemos relatórios do Tribunal de Contas, de uma CPI na Câmara Municipal e de uma comissão de análise da tarifa que mostraram que o contrato atual entre Prefeitura e empresas de ônibus é fruto de uma licitação fraudada e deveria ser cancelado. Mas, diante disso, Fruet tomou apenas as medidas já citadas acima (aumento da tarifa e afins). Nem mesmo disse que romper um contrato seria difícil ou coisa do tipo. Simplesmente se omitiu.

É por isso que o que acontece agora na Grécia tem tudo a ver com isso. Diante de uma dificuldade ainda maior que essa, o primeiro-ministro chamou um plebiscito. Ancorado numa decisão da população, tem certeza que terá condições de negociar em melhores condições com a Troika. Essa decisão e metodologia poderiam, quem sabe, inspirar os governantes brasileiros, que tem suas atuações marcadas pelo conservadorismo. Diante dos riscos, preferem recuar.

O ajuste fiscal e medidas de austeridade que enfrentamos em 2015, já é de conhecimento deles há muitos anos. Que a luta do povo grego por sua dignidade seja uma inspiração para todos nós!