dormindo-no-debateSe você souber tudo que aconteceu naquele 28 de agosto de 2014, vai ver que essa foto aqui ao lado foi o evento menos relevante. Sim… ela ficou famosa, virou meme, está no BuzzFeed, fez com que algumas coisas achassem que eu estava desmaiado… mas foi apenas uma parte daquele dia.

Aquela quinta-feira começou, na verdade, no dia 13 de agosto. Enquanto chegávamos a Irati para mais uma viagem da campanha eleitoral (com direito a uma entrevista de rádio via telefone em rádio da cidade pela manhã), ficamos sabendo que o avião do então presidenciável Eduardo Campos havia caído e não havia nenhum sobrevivente. Logo depois, recebemos uma ligação avisando que o debate da Band entre os candidatos a governador, que aconteceria no dia seguinte, 14 de agosto, estava adiado.

E ele então foi remarcado para 28 de agosto. E, nessas 2 semanas, deu pra ver que todo o calendário que havíamos programado estava indo ao chão: para o dia 28, já estavam marcadas duas entrevistas de rádio (na Jovem Pan e na CBN) e uma fala no Conselho Estadual de Saúde. Além desses compromissos, nesse dia também estava marcada a reunião do Conselho Universitário da UFPR que votaria (ou não) a adesão da UFPR à EBSERH.

Embora uma voz de fora pudesse sugerir o cancelamento de todos esses compromissos para garantir uma boa preparação ao debate, quem conhece minha trajetória política e acadêmica sabe que seria impossível não estar nesses compromissos. E lá fomos nós, eu e a valorosa equipe de campanha, cumprir esta agenda, que começou logo cedo as 7h00.

Na Jovem Pan a entrevista foi bem rápida. Em 7 minutos, respondi perguntas sobre drogas, direitos da população LGBT, aborto. Ainda que tenha sido muito rápido, acredito que deu pra passar o programa do partido para essas pautas. Deu, pelo menos, pra colocar dúvida entre aqueles que estavam ouvindo.

Saindo de lá, fomos para a Reitoria da UFPR, ajudar na “batalha da EBSERH”. Chegando lá, vimos uma Reitoria tomada por manifestantes e por policiais. Por volta das 9h30, tive oportunidade de subir ao caminhão de som para fazer uma saudação àquele ato. Estava triste em não poder estar tão presente naquele momento. Logo eu, que havia estudado esse tema na monografia e que havia participado da elaboração da tão reivindicada resolução do COUN que impedia a adesão do HC à EBSERH. Na descida do caminhão de som, mais um fato que nunca vou me esquecer: o sinal do Whats App apitou e a mensagem era da repórter da CBN, pedindo que eu não esquecesse da entrevista e fosse logo pra rádio.

Pois bem, antes das 10h00 estávamos lá. E o pessoal da rádio foi muito legal. Sabendo do meu engajamento em relação àquela pauta, pediram para que eu usasse metade do tempo da entrevista (que ao todo teria 30 minutos) para falar minha opinião sobre a entrada da EBSERH no HC. Depois, nos outros 15 minutos, uma conversa mais geral sobre a campanha, com direito a uma pergunta específica sobre nosso programa de TV, que estava no ar recentemente naquela etapa da campanha.

Voltando para a Reitoria, o cenário era de guerra. Na esquina das ruas General Carneiro e XV de Novembro, até um segurança da UFPR estava no chão por conta das bombas de gás e efeito moral. Após muita confusão, a indignação era grande ao saber que a EBSERH havia sido aprovada em uma votação por telefone. Aproveitando que estava pela Reitoria, fui almoçar no RU.

De lá, corri para a reunião do Conselho Estadual de Saúde (CES), na rua Barão do Rio Branco. Sabia que seria o único candidato a governador que estaria presente. Provavelmente os demais mandariam representações (como havia acontecido no II Congresso Paranaense de Saúde Pública). Mas não dava pra faltar nesta atividade. Afinal, eu havia sido membro do Conselho Municipal de Saúde e era frequentador assíduo de espaços do chamado “controle social” na saúde.

Mas ainda faltava o debate da Band. Era o primeiro debate de TV da campanha e a pressão era grande. Pra tentar aliviar, comprei, no caminho do CES até em casa, naquelas lojas de doce da André de Barros, duas barras de chocolate. A dona da loja, que estava no caixa, não teve dúvidas em perguntar: “é preparação para o debate?”

Cheguei finalmente em casa. A ideia era dormir. Mas quem disse que eu consegui… fiquei revisando as ideias de perguntas que tínhamos para o debate, as regras, nosso programa de governo. Logo chegaram as pessoas que também iriam para a Band (lá eles tem a tradição de permitir que muitas pessoas acompanhem o debate, o que é muito bacana). Comi um pedaço de pizza e um salgado que alguém trouxe da padaria. Me arrumei e coloquei o paletó. Meu pai foi o último a chegar. Pronto, fomos para a Band.

Quando estacionamos o carro no pátio da emissora, senti, pela primeira vez naquela campanha, que era mesmo candidato a governador: havia uma meia lua de repórteres me fazendo as perguntas mais diversas. Vários deles me perguntaram se eu estava cansado por conta dos protestos da EBSERH. Disse que não, que havia feito naquele dia tudo o que gosto e estou acostumado: um protesto em defesa da saúde pública, almoço no RU, debate no CES e uma pizza pra arrematar. Mas foi tanto microfone e tanta pergunta que mal deu pra gravar o vídeo que havíamos combinado.

Entramos na emissora e nossa equipe de campanha chamava atenção de todos. Primeiro, pela idade dos assessores. Afinal, eles conseguiam ser mais jovens que o mais jovem candidato a governador do Brasil (registre-se que minha camarada de PSOL, Camila Valadão, era a mais jovem candidata). Segundo, pela presença dos meus pais. Sim, meus pais estavam lá, dando uma energia incrível.

Entramos no estúdio. Fui então me arrumar no “púlpito” que estava com meu nome. Foi aí que algo caiu do meu bolso. Fui buscar. Ao levantar, bati a cabeça na quina. Ai que dor. A câmera já ia começar a filmar. Então eu tinha duas opções: aparecer com a cara amarrada, com careta ou fechar os olhos. Tomei a segunda opção. Naquela fração de segundo, imaginei que, se tudo desse errado, o máximo que aconteceria era aquilo virar um meme…

Depois disso, tudo caminhou. Respondi logo de cara ao Tulio Bandeira e ali deu pra relaxar. Entre uma pergunta e outra, ainda recebia sinais da dupla do PSOL que estava no estúdio (foi um sinal da Rebecca que me fez lembrar de falar que “só a luta muda a vida”). Infelizmente não perguntei para o Beto. Infelizmente fiz a pergunta que ia fazer para a Gleisi (sobre indígenas) para o PSTU. Mas consegui debater com o Requião. Ele deu chance, ao perguntar quem tinha sido menos perguntado. Eu gritei “eu”, levantando os braços. E aí ele me perguntou sobre saúde. Talvez ali tenha sido meu melhor momento na campanha. Imaginando que ele iria me destroçar na resposta, fiquei mais do que tranquilo ao escutar um “Pilotto, você foi injusto comigo”.

Depois de tudo isso, saí tranquilo do estúdio. Ao começar a receber mensagens dos amigos e apoiadores, vi que tinha ido bem. No dia seguinte, na ida para Paranaguá, deu pra ver que tudo tinha dado certo.

Assista ao vídeo completo do debate clicando aqui