DESOCUPACAO_FAZENDINHA_2410É comum, nos movimentos sociais, que certas lendas se perpetuem. Uma delas é sempre sobre a composição das passeatas e “momentos agudos de resistência”. Sempre, na eminência de uma derrota ou de más notícias, crescem boatos acerca de algo que parece bom, mas que infelizmente fica só num boato. Numa ocupação urbana, de Reitoria ou num ato em Brasília, sempre surge o boato de que um “mega fulano” declarou apoio ou de que um “grande grupo” está a caminho para ajudar e fortalecer o movimento.

E não foi diferente no dia 23 de outubro de 2008, quando um despejo violento aconteceu numa ocupação no bairro Fazendinha, em Curitiba*.

Naquela época existia em Curitiba o Coletivo Despejo Zero, que procurava ajudar nas lutas por moradia, especialmente com ações no âmbito jurídico buscando evitar despejos. Eram poucas pessoas, com uma estrutura precária, em que a maior parte dos membros tinha horários de trabalho que não permitiam o acompanhamento das ocupações em horário comercial.

Mas, diante do eminente despejo de mais de 1000 famílias, alguns militantes do Coletivo Despejo Zero se organizaram para estarem lá no momento da ação. Eram poucos, uns 5. Mas quem sabe eles conseguissem um diálogo melhor com a PM. Quem sabe conseguissem ajudar na organização das famílias.

Só que, diante da eminente derrota, a lenda do boato otimista voltou a surgir com força. Os moradores, ao saberem que o “Despejo Zero” estaria presente, se animaram. Afinal, um grupo que tinha este imponente nome poderia ser um grande reforço para aquela luta.

E aí, no meio das bombas e das fumaças lançadas pela PM, alguém gritou: “o coletivo Despejo Zero tá vindo aí, nós vamos conseguiiiiiir!”. E, alguém do Despejo Zero, humildemente explicou: “o Despejo Zero somos nós aqui: la resistencia soy yo!”.

*Eram mais de 1000 famílias que estavam acampadas há cerca de um mês, numa ocupação que parecia ser combinada com o dono do terreno e que acabou fugindo do controle. O despejo, acontecido logo após a reeleição de Beto Richa como prefeito com mais de 78% dos votos válidos, não terminou com aquela luta, visto que muitos acamparam na calçada da frente do terreno e seguiram sua batalha por moradia digna.