images.livrariasaraiva.com.brEstou terminando de ler uma biografia de Assis Valente, de Gonçalo Junior, chamada “Quem Samba Tem Alegria”. O livro conta a história de um importante e, ao mesmo tempo desconhecido, compositor da Música Popular Brasileira. Apesar de suas músicas serem cantadas até hoje, o nome de Assis Valente e sua trágica história permanecem desconhecidos da maioria dos brasileiros, mesmo daqueles que gostam de MPB e samba.

A minha geração teve seu primeiro contato com Assis na Copa do Mundo de 1994, quando as propagandas do Rider (que era o chinelo mais usado na época, visto que as Havaianas estavam numa, digamos, má fase) tocavam a música Brasil Pandeiro, na versão dos Novos Baianos. Mas, para quem não foi atrás de mais informações, o contato parou por ai, ainda que muitas das suas músicas (como Boas Festas, Camisa Listada, Alegria e E O Mundo Não Se Acabou) continuem sendo gravadas e cantadas.

O livro de Gonçalo Júnior aponta alguns elementos para esse esquecimento. Nas cerca de 600 páginas da biografia, é possível acompanhar o drama de Assis Valente, que, apesar de se tornar um compositor de sucesso logo no inicio de carreira, convivia com uma pesada depressão (que na época não era diagnosticada com esse nome), que o levou ao suicídio.

O  livro nos leva a refletir sobre uma situação que parece ser mais comum do que imaginamos: a associação entre o sucesso e a depressão. É o que apontam, também, uma declaração do cantor e compositor Lobão (antes desse virar coxinha), em que dizia que nada é mais solitário do que um show para 50.000 pessoas, e a música Sai Dessa, interpretada Elis Regina, que compara a plateia ao patrão. Em todos os casos, é desmistificada a ideia de que o trabalho com música é algo sempre prazeroso e gratificante. Os recorrentes casos de mortes de ídolos da música por overdose e/ou suicídio parecem confirmar esta hipótese.

No caso de Assis Valente, a contradição é evidente: ele era o compositor das músicas de Carmen Miranda, artista que tem seu nome associado a alegria. E, como o livro mostra, Carmen também teve problemas com a depressão, bem como outros cantores de sucesso da época. Apesar de uma aparência de felicidade, a vida desses artistas era vazia, sem amizades verdadeiras, envoltos por falsos bajuladores, sem condições de ter uma vida financeira sadia e/ou estável.

Essas situações mostram que, em nossa sociedade, capitalista, não há trabalho com sentido pleno. Mesmo naqueles trabalhos onde tudo parece legal, divertido, a lógica da exploração e da extração de mais-valia permanece, fazendo com que não haja uma plena realização. Como diz o samba de Nilton Bastos e Ismael Silva, “trabalhar só obrigado, por gosto ninguém vai lá”.