luiz_antonio_de_souzaAs próximas semanas prometem ser agitadas na política nacional, especialmente por conta da decisão do senador Delcídio Amaral (MS) contar o que sabe. Ele é um elo importante para entendermos a relação entre o governo federal e as empreiteiras, visto que, além de líder do governo Dilma no Senado e senador eleito pelo PT, Delcídio foi também filiado ao PSDB e diretor da Petrobrás na era FHC. Essa “convulsão” toda em nível nacional acaba consumindo toda a atenção e algumas questões locais vão sendo deixadas de lado, infelizmente. Uma delas é a Operação Publicano, que investiga um escândalo de corrupção na Receita Estadual, que teve como mais recente episódio o depoimento de Luiz Antônio de Souza, o principal delator do processo.

Luiz Antônio foi preso no começo de 2015 ao ser flagrado num motel com uma garota de 15 anos de idade. A investigação sobre exploração sexual continuou e acabou chegando num esquema em que auditores fiscais da Receita Estadual favoreciam empresários, cobrando propinas. Luiz Antonio, que em sua carreira de mais de 30 anos como auditor-fiscal já havia sido afastado duas vezes por denúncias de corrupção e fraude, aceitou então fazer um acordo de delação premiada. O que se viu logo no começo foi uma inversão do cenário nacional: por aqui, petistas passaram a louvar a delação premiada e tucanos passaram a questioná-la, em mais um capítulo do Fla-Flu da política brasileira.

Na última segunda-feira, 07 de março, a Justiça deu início aos depoimentos de 73 réus da Operação Publicano e o primeiro a depor foi Luiz Antônio de Souza. E ele pareceu mesmo disposto a contar tudo que sabe. No depoimento, afirmou que os deputados federais Fernando Francischini (SD) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) usaram de sua influência para tentar emplacar aliados nos altos cargos da Receita Estadual, que parte da propina foi desviada para a campanha do deputado estadual Tiago Amaral (PSB), filho de um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e que a ampla maioria dos servidores da Receita são corruptos. Os citados, obviamente, negaram tudo.

Nos próximos dias, novos depoimentos irão acontecer. E, assim como em nível nacional, as investigações locais vão desnudando o funcionamento do Estado brasileiro: relações promíscuas entre grandes empresas e políticos, apadrinhamento e presença de corruptos em órgãos de fiscalização. Além de aplicarem um programa político e econômico cada vez mais parecido, com austeridade fiscal, cortes de verbas de áreas sociais e retiradas de direitos dos trabalhadores, PT e PSDB também vão mostrando que têm o mesmo método de gestão.

É por isso que é muito importante que a apuração desses fatos seja conduzida para além dessa disputa. Caso contrário, como acreditar na indignação de tucanos sobre o “petrolão” e vice-versa? A saída da paralisia em que nos encontramos só será possível com algo diferente do que está ai. E isso significa uma “saída pela esquerda”, visto que as propostas trazidas pela direita parlamentar e seus representantes externos (como MBL e Vem Pra Rua) apenas aprofundam o que já temos ai, com mais retirada de direitos sociais e trabalhistas, criminalização daqueles que ousarem questionar e com mais relações dúbias entre público e privado, aumentando as chances de novos escândalos como os atuais.

A corrupção é algo endêmico e permanente da política brasileira. Só fica de fora aqueles que atuam como “outsiders” do processo político. E é isso que os segmentos da oposição de esquerda tem feito, com combate aos privilégios dos políticos, com prestação de contas públicas dos mandatos, devolução de benesses (como ingressos VIP para shows do Rock In Rio e camarotes da Sapucaí) e independência financeira. Certamente, o sucesso do Podemos na Espanha, do Bloco de Esquerda em Portugal e de Bernie Sanders nos EUA são uma inspiração para o que precisamos no Brasil!