lula-tiro-no-peDepois dias de extensa boataria e de um autêntico vai-não-vai (quase como no clássico “Piston de Gafieira”), Lula enfim foi nomeado Ministro da Casa Civil nesta quarta-feira. A nomeação tem grande repercussão em todos os segmentos da política nacional e é tratada como a última tentativa do governo Dilma sair do atoleiro e da inação.

Num primeiro momento, o boato de que Lula ia assumir parecia algo plantado pela mídia ligada a oposição de direita. Com esse boato, tal setor parecia querer aumentar um certo clamor popular pela prisão preventiva de Lula, deixando no ar que a nomeação dele teria como objetivo deixá-lo com “foro privilegiado”. Mas, após as passeatas de domingo, a equação se inverteu: a partir daí, foram os blogs e portais “progressistas/governistas” que passaram a noticiar a nomeação de Lula como certa, o que enfim aconteceu nesta quarta.

Na minha visão, foi um tiro no pé.

Do ponto de vista político, é o reconhecimento de que o governo Dilma não tem mais condição de governar e que precisa de um reforço externo para tentar sair do atoleiro. Lula estava em casa, “aposentado”, de pés pra cima. Ele não era senador, nunca havia sido cotado para ser ministro antes do governo estar em maus lençóis. Esta nomeação nunca poderá ser vista como normal ou corriqueira.

E esta nomeação não significa a retomada ou a construção de um projeto, ainda que a militância governista diga o contrário. Vale lembrar que a defesa de que “daqui pra frente tudo será diferente” já foi feita no segundo turno em 2014, quando Cunha aceitou o pedido de impeachment e na queda de Joaquim Levy. Essa defesa surge novamente agora. Novamente será falsa, visto que “Lula ministro” é muito mais uma tentativa desesperada de salvar o governo do que qualquer outra coisa. Como mostra disso, uma das suas primeiras iniciativas parece ser a de nomear o ortodoxo Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank Of Boston, como Ministro da Fazenda.

Também não é certo de que Lula pode salvar o governo. Ele tem bastante capital político, tem moral perante caciques partidários e o empresariado. Mas mesmo esse capital pode ser queimado agora, de forma irrecuperável.

Mas alguém há de dizer que a nomeação se justifica pelo plano jurídico e não por questões políticas. Mas, mesmo desse ponto de vista, a argumentação é frágil. Isso porque o foro privilegiado não é tão privilegiado assim, tanto é que, em 2014, o então deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) renunciou de seu mandato para escapar do foro privilegiado (saiba mais sobre o assunto clicando aqui). A única mudança é que Lula tem que ser julgado e investigado diretamente pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e não mais pelas instâncias inferiores. Caso seja condenado, tem, inclusive, menos instâncias de recurso. Mas, para a população, prevalecerá a ideia de que Lula quer escapar de julgamento. Ou seja, a opção é frágil do ponto de vista jurídico e trágica em termos de repercussão.

A nomeação de Lula também evidenciou o caráter messiânico de grande parcela dos segmentos governistas. Esquecem que foi esse mesmo Lula que fez acordos com o PMDB, que usou de seu prestígio perante os trabalhadores para retirar direitos previdenciários, que é lobista de empreiteiras, que chamou os usineiros de herois.

Por fim, há uma frase de Lula (“Pobre quando rouba vai preso. Rico quando rouba vira ministro”), dita em 1988, que será insistentemente lembrada nos próximos dias, tanto pela oposição de direita (ainda que não tenha moral para cobrar isso, visto que já usou esse mecanismo em dezenas de ocasiões), tanto pela oposição de esquerda, que não tem outra alternativa senão desligar-se definitivamente das sombras do petismo e do lulismo.

Saiba mais:

Lula virou um lobista. E ponto.

O governo está encurralado e dificilmente sairá do atoleiro em que se meteu desde o começo