Yared junto com Dilma e Gleisi.

Yared junto com Dilma e Gleisi.

Nesta quarta-feira, 06 de abril, o jornal Gazeta do Povo divulgou o “placar do impeachment” entre os deputados paranaenses. E esse placar traz uma situação curiosa: muita gente que votou em algum candidato contrário ao impeachment, acabou elegendo algum político que agora promete votar a favor. E vice-versa!

Isso acontece porque a eleição para deputados (bem como para vereadores) é feita de forma proporcional, onde o voto vai primeiro para a coligação e depois para o candidato que você votou. Neste método, o partido, ou seja, a coletividade, é valorizada. Apesar de soar estranho num país onde a maioria dos partidos são verdadeiras máfias, é um método melhor do que a eleição puramente individual (que possibilitaria uma despolitização ainda maior). Mas como nem o TRE, nem a maior parte dos partidos e coligações, informam isso pra valer, o eleitor muitas vezes vota em alguém bacana-honesto do seu bairro e acaba elegendo um corrupto de carteirinha. E, infelizmente, isso não acontece apenas por coligações estranhas que são feitas. Muitas vezes, os polos opostos co-existem num mesmo partido.

No caso da atual polarização presente na política brasileira, o seu voto pode ter ajudado a eleger alguém que tem uma posição absolutamente inversa da sua (ou até mesmo do seu candidato) neste momento. Isso não é exclusivo deste momento (foi assim na votação da redução da maioridade penal, por exemplo). Mas certamente este é um momento que esse tema virá a tona. Vejamos:

1) A coligação Paraná Por Você (PV/PPL) obteve 280.767 votos e teve direito a eleger uma deputada federal (para eleger um deputado, era necessário que a coligação somasse 191.887 votos). No caso, a eleita foi Leandre Dal Ponte, com pouco mais de 81.000 votos. Para sua eleição, foram fundamentais os votos dos demais candidatos da coligação, como João Barbiero (19.555 votos), Goura (13.265 votos) e Dra. Clair (3.957 votos), bem como os quase 16.000 votos de legenda. O que pensam esses candidatos sobre o impeachment? E os seus eleitores, estão satisfeitos com a posição de Leandre?

2) A coligação Paraná Sempre em Frente (PT/PDT/PRB/PTN/PCdoB) obteve 1.109.905 votos e teve direito a eleger 6 deputados federais. Destes, 4 já mudaram de partido (Assis do Couto está no PDT, Toninho Wandscheer no PROS, Aliel Machado no PCdoB e Christiane Yared no PR) e outros 2 ainda se mantém no PT (Zeca Dirceu e Ênio Verri). Segundo o mapa da Gazeta do Povo, Yared já anunciou voto a favor do impeachment, Aliel e Assis estão indecisos e Toninho, Zeca e Ênio Verri votarão contra. Isso quer dizer que muitos votos no PT e no PCdoB, os aliados mais firmes do governo Dilma, ajudaram a eleger deputados favoráveis ao impeachment. Por outro lado, muitos votos de Yared ajudaram a eleger parlamentares contrários ao impeachment.

3) A coligação Unidos Pelo Paraná (PSDB/DEM/PR/PSC/PTdoB/PP/SD/PSD/PPS) obteve 2.601.709 votos e teve direito a eleger 15 deputados federais. Destes, um já declarou que vai votar contra o impeachment (Nelson Meurer, do PP) e outro está indeciso (Ricardo Barros, também do PP).

4) A situação do PMDB mostra que o problema de incoerência não está apenas nas coligações. No Paraná, o partido se dividiu entre “requianistas” e “não-requianistas”. Até o momento, um lado tem se posicionado contra o impeachment e outro a favor. Ou seja, o voto de um lado ajudou a eleger o outro. E ainda há 3 deputados paranaenses desse partido que não quiseram se pronunciar para o levantamento feito pela Gazeta do Povo: João Arruda, Sérgio Souza e Hermes Parcianello.

5) Aparentemente, os eleitores da coligação Educação e Trabalho Com Sustentabilidade (PSDC/PEN/PTB/PHS/PMN/PROS) e do PSB podem “dormir tranquilos”. Os 2 deputados eleitos pela coligação e os 2 deputados eleitos pelo PSB tem a mesma posição: são favoráveis ao impeachment. Mas dizemos aparentemente porque não sabemos se, entre aqueles que não se elegeram, não há políticos que estejam militando contrários ao impeachment.

Esses dados e esta situação mostram que, apesar de muitos acharem o contrário (ou quererem brigar com a regra), a eleição para cargos proporcionais (deputados e vereadores) não é individual. Quando apertamos o número de um candidato, por exemplo, do PT, na urna, estamos dizendo ao TRE que queremos que aquela coligação eleja um parlamentar e que, entre os da coligação, eu quero aquele que eu votei.

Torcemos para que toda essa ebulição política que estamos vivendo no Brasil sirva para que o voto seja dado de forma mais consciente. Nós, do PSOL, estamos preparando uma chapa para a disputa da Câmara de Vereadores de Curitiba que tenha bastante diversidade em termos de pautas e projetos, mas que tenha um fio condutor. Se o eleitor escolher esta chapa, terá a certeza alguém comprometido com as pautas do PSOL, com prestação de contas pública de seu mandato e com uma construção coletiva. Para nós, o voto não pode ser a assinatura num cheque em branco.

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Como é eleito um vereador?