professoresPublicado originalmente no portal Notícias Paraná

É um tanto difícil escrever sobre o que aconteceu no dia 29 de abril no Paraná. Por um lado, muito já foi dito, contado, denunciado, especulado. Por outro, a impressão que tenho é que quem não viveu aqueles dias bem de perto nunca vai conseguir captar toda aquela intensidade e não há textos que possam alterar isso.

Aquela semana começou muito tensa. A deflagração de greve por parte dos professores e funcionários da escola da rede estadual foi seguida pelo anúncio, por parte dos chefes do Poder Executivo (Beto Richa) e Legislativo (Ademar Traiano), de que o Centro Cívico seria totalmente cercado na “maior operação policial da história”. Essa decisão era referendada pelo Poder Judiciário. Eram milhares de policiais, de todo o estado, orientados a “não sorrir” para os manifestantes.

Desde a segunda-feira, 27 de abril, quando milhares de manifestantes começaram a se juntar para irem até a praça na frente da ALEP, tivemos que lutar pelo básico. As barreiras de policiais estão muito longe da Assembleia Legislativa e tentavam impedir que o protesto chegasse até a praça Nossa Senhora de Salete. Tentavam impedir o acampamento. Tentavam impedir o abastecimento de água e mantimentos.

Era uma operação de guerra. Mas apenas um lado tinha bombas, balas e armas. Tudo indicava que o governo não ia aceitar uma nova derrota e que Francischini estava disposto a se vingar das cenas lamentáveis que havia protagonizado em fevereiro.

Depois de muita pressão, o acampamento foi instalado na praça. Mas a noite daquela segunda-feira mostrou que a situação havia realmente mudado em relação a fevereiro. No meio da madrugada, os policiais receberam ordens do comando para retirar o caminhão de som de perto do acampamento. Era uma tentativa de desmoralizar os manifestantes.

Houve resistência, com uma intensidade que ninguém imaginava que poderia acontecer. Primeiro, os pneus foram esvaziados. Depois, um cordão em volta do caminhão de som. Os policias não recuaram e partiram pra ignorância: descarregaram seus tubos de spray de pimenta em cada um dos manifestantes que estavam sentados. E eles continuaram lá, até que foram arrancados um a um pelos PMs. O caminhão de som foi guinchado e os sindicatos teriam que conseguir um outro caminhão para o dia seguinte.

Na terça, os relatos da madrugada assustavam por um lado e, por outro, traziam mais garra. Na hora do almoço, mais confusão. De novo os PMs tentaram barrar a aproximação da manifestação com a praça Nossa Senhora de Salete. Na ocasião, até uma repórter global foi atingida pelos “equipamentos não-letais” da PM. A noite, o acampamento foi reforçado. Afinal, os acontecimentos da noite anterior tinham nos deixado ainda mais alertas. Até a Gazeta do Povo enviou uma equipe ao local, o que certamente ajudou a constranger ações mais brutas da polícia.

No dia seguinte, 29 de abril, aconteceu aquilo que o mundo inteiro sabe. E não há o que justifique. Nada pode legitimar tal ação bruta como aquela. Mais de 250 feridos. Por muito pouco ninguém morreu. Infelizmente, a punição só veio para os professores, servidores e para a população do Paraná, que terá que arcar, daqui alguns anos, com os rombos orçamentários que estão sendo produzidos por agora.

Para que nunca mais aconteça e para que os responsáveis sejam punidos. É pra isso que temos que lutar. Sempre!