1jan1989---a-prefeita-luiza-erundina-apos-cerimonia-de-posse-posa-para-a-primeira-foto-em-sao-paulo-1430339552871_956x500Ao procurar um vídeo que mostrasse a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) sentando na cadeira de presidente da Câmara dos Deputados, o Youtube acabou me sugerindo que eu assistisse o Globo Repórter do dia 18 de novembro de 1988, que repercutia a eleição de Erundina para a Prefeitura de São Paulo, ocorrida apenas poucos dias antes (em 15 de novembro). Eu segui a recomendação do Youtube e recomendo que todos façam o mesmo!

Em 1988, o PT disputou a sua terceira eleição municipal e, apesar de não ter eleito um grande número de prefeitos, conseguiu ganhar a disputa em três capitais: Vitória, Porto Alegre e São Paulo, a maior cidade do Sul do mundo. A vitória em São Paulo foi surpreendente, na reta final, e fruto de grande empenho da militância petista. Com 29,84% dos votos (na época não estava previsto a realização de um segundo turno), Erundina, da coligação “Partidos do Povo” (PT/PCB/PCdoB), superou os outros 13 candidatos, incluindo Paulo Maluf, do PDS (que fez 24,45%), João Leiva, do PMDB, que fez 14,17% e José Serra, do PSDB, que fez 5,59%.

Outra surpresa da eleição paulistana foi a origem da candidatura de Luiza Erundina. Nas discussões internas, ela derrotou Plínio de Arruda Sampaio, que era o candidato da cúpula petista, apoiado por Zé Dirceu e Lula. Já Erundina surgiu apoiada pela base partidária e pelas correntes localizadas mais à esquerda.

Na reportagem da Globo, o PT é apresentado como um partido militante, auto-financiado, democrático e onde existem mecanismo de combate ao machismo. Isso mostra a força interna e externa que o partido tinha naquele momento e como estamos, em 2016, numa situação muito diferente daquela.

A reportagem também nos permite reflexões sobre a trajetória que o PT teria a partir de então. Em determinado momento, o repórter Alexandre Garcia aparece em Brasília e, pisando na rampa do Planalto, diz que a eleição de Erundina era o primeiro passo para que o PT repetisse aquele gesto, que acabou se efetivando apenas em janeiro de 2003.

E Garcia acertou em cheio: as medidas tomadas por Luiza Erundina em sua gestão foram muito importantes para que o PT se mostrasse um “partido viável” e que poderia se amoldar ao sistema político brasileiro caso fosse necessário. Foi em sua gestão que uma greve de trabalhadores foi reprimida pela Prefeitura (algo comum atualmente, mas inédito para uma Prefeitura do PT até aquele momento), ainda que tantas outras medidas da época sejam consideradas muito avançadas para os padrões políticos atuais (já escrevi sobre o tema em outra ocasião, veja aqui).

A experiência da gestão de Erundina e de outras gestões petistas da época merece ser estudada, para que possamos aprender com seus erros e tentar entender todos os seus avanços. Certamente a reportagem do Globo Repórter nos ajuda a entender o contexto desse momento.