Recife - PEPublicado originalmente em Notícias Paraná

Desde a chegada de Lula a presidência em 2003, uma “lenda urbana” frequentemente lembrada pelos intelectuais e dirigentes políticos da chamada esquerda petista, é a de que o governo federal estaria esperando um momento propício para executar seu verdadeiro projeto político, que seria afinado com o “PT das origens”.

Em vários textos, discursos, entrevistas, a aplicação desse “programa da guinada” não seria possível no momento, visto que o governo estaria “refém” de sua coalização de governo. Apesar de tornar o governo um refém, essa aliança seria necessária para que algumas medidas progressistas fossem implementadas.

Entendo que esta aliança começou a se romper a partir de 2013, quando a elite econômica brasileira percebeu que o PT e seu governo não tinham mais condição de “segurar” a instatisfação popular com as demandas históricas não-resolvidas em nosso país. Percaba que o rompimento partiu da elite e não do PT.

A partir desse momento, um setor da elite passou a construir outro projeto, materializado na candidatura a presidente de Aécio Neves em 2014 e no incentivo ao processo de impeachment a partir do segundo semestre de 2015. Com o imobilismo do governo Dilma e diante de sua incapacidade de aplicar o “ajuste fiscal” (que só interessa aos mesmos setores historicamente favorecidos no Brasil), mais e mais segmentos da elite foram rompendo com o PT e aderindo à pressão pelo impeachment.

Mesmo assim, o projeto econômico do governo federal não teve alteração. A cada mudança de ministro ou na composição da coalização, a militância governista anunciava a tal “guinada à esquerda” mundo afora. Foi assim depois que Cunha encaminhou o impeachment, na demissão de Joaquim Levy, na saída do PMDB, PP, PSD e PRB do governo, na convocação de Lula para ser ministro, depois do impeachment passar na Câmara dos Deputados, etc.

Mas, em todos esses momentos, a guinada não veio. A Lei Antiterrorismo não foi cancelada, as MPs que retiram direitos trabalhistas e sociais não foram suspensas, o reajuste dos servidores públicos não foi antecipado, Kátia Abreu continua como ministra. Poderíamos citar “n” exemplos.

O PT segue governando para quem agora o rejeita. Desta forma, mostra que o tal “programa pra guinada” nunca sequer existiu, a não ser na imaginação de quem ainda se agarra apenas na história para justificar sua atual postura política.