Rodrigo Maia, do DEM, é o novo presidente da Câmara dos Deputados.

Rodrigo Maia, do DEM, é o novo presidente da Câmara dos Deputados.

Ao longo dos últimos anos, vários movimento desagradáveis do PT e de sua cúpula acabaram sendo úteis do ponto de vista pragmático da ocupação do poder ou, ainda, na conquista de popularidade. Foi assim com a Carta ao Povo Brasileiro, aliança com Sarney, Renan, Maluf, Temer e outros, crescimento econômico a partir da bolha do crédito fácil, entre diversas outras ações. Em todos esses momentos, a militância de base do PT e do PCdoB repetia, constrangida, o mantra de que isso estava a serviço de uma governabilidade e que tudo era necessário pelo nosso (com muitas aspas) governo.

Na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, há cerca de 10 dias, novamente as cúpulas do PT (com participação ativa de Lula, é importante registrar) e do PCdoB optaram por uma tática desagradável. A diferença, dessa vez, é que, fora do governo, a tática foi inútil. No fim das contas, as opções dos dois partidos inauguraram a era da governabilidade sem governo, inédita no Brasil.

A perspectiva de que haveria eleições para a presidência da Câmara surgiu a partir das sucessivas derrotas de Eduardo Cunha na justiça e no parlamento. Em determinado momento, ele renunciou, forçando que novas eleições fossem chamadas. Neste momento, o PT passou a trabalhar para que a negociação em torno dos possíveis candidatos ajudasse também numa possível derrota do processo de impeachment dentro do Senado. As articulações mostraram, também, que tais articulações não vão além do pragmatismo e do aliancismo do período anterior, reforçando a ideia de que uma eventual volta de Dilma é também uma manutenção do PMDB e de Temer no governo.

Nos bastidores, Lula e a cúpula do PT trabalharam para que seu partido não tivesse candidato a presidência. Especularam um apoio a um dos principais articuladores do impeachment, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e depois a Marcelo Castro (PMDB-PI), que foi Ministro da Saúde (péssimo, por sinal) e votou contra o impeachment.

Tudo caminhava bem. Até que o PSOL optou por lançar Luiza Erundina (PSOL-SP) como candidata. Isso causou um terremoto nas pretensões da cúpula petista: as bases militantes, que foram as ruas contra o impeachment e pelo Fora Temer, se indignaram com a articulação que vinha sendo feita e começaram a se questionar o porquê do PT e do PCdoB não apoiarem Erundina, uma deputada comprometida explicitamente com a luta contra Temer e que votou contra o impeachment.

Pressionada, a bancada do PT optou por não apoiar nenhum parlamentar golpista e deixou em aberto se teria candidato ou não. Nos minutos finais do processo de inscrição, Orlando Silva (PCdoB-SP) e Maria do Rosário (PT-RS) lançaram suas candidaturas, tentando mostrar serviço e acalmar a revolta em torno das articulações da cúpula.

Mas a empolgação durou pouco: após pedido do presidente do PT, Rui Falcão, Maria do Rosário desistiu e retirou seu nome. Por outro lado, a candidatura de Orlando Silva se mostrou a serviço do fortalecimento de Rodrigo Maia, visto que ela retiraria votos de Marcelo Castro e facilitaria a chegada de Maia no segundo turno.

Na hora do voto, Erundina obteve 22 votos, 16 a mais que bancada do PSOL e mais do que Orlando Silva. Foram para o segundo turno Rodrigo Maia e Rogério Rosso (PSD-DF), este último com poucos votos a mais do que uma eventual aliança entre PT, PCdoB, PDT e PSOL encabeçada por Erundina. Ou seja, o resultado mostrou que uma candidatura comprometida com o #ForaTemer seria absolutamente viável. Mas, com o boicote dos partidos da base de Dilma, essa luta foi deixada de lado.

No segundo turno, o pragmatismo continuou. O PSOL se recusou a votar e se retirou do plenário, o que não foi feito pela maior parte dos deputados do PT e do PCdoB, que estavam lá para votar em Maia, que fez questão de agradecer o apoio da esquerda para sua eleição.

Ao assumir, o deputado do DEM mostrou a que veio: prometeu agilizar a votação dos projetos de Michel Temer que atacam os direitos dos trabalhadores e da juventude. A articulação da cúpula petista mostrou, mais uma vez, que esse método de construção política só nos traz derrotas, ainda que algumas venham em médio prazo. Mostrou, também, que uma alternativa verdadeira para a saída da crise vai se dar por fora do PT e do PCdoB.