downloadPublicado originalmente em Notícias Paraná

Certa vez, lá pelos idos de 2009, um vereador de Porto Alegre propôs uma emenda ao regimento da Câmara de Vereadores, para regulamentar a forma de vestimenta das vereadoras. A emenda era absurda por diversos motivos e tinha endereço certo: a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), então com 25 anos, que frequentava as sessões com calça jeans e camisetas do movimento social.

A proposta foi enterrada depois de uma fala de Fernanda que até hoje ainda repercute: ela foi de terninho até a tribuna discursar e, na metade da sua fala, colocou uma gravata, para então perguntar se, a partir daquele gesto, os graves problemas sociais de Porto Alegre estavam resolvidos. Além disso, Fernanda falou sobre a política ser vista por muitos como algo que apenas uma pequena elite (os engravatados) podem participar.

Agora, em 2016, uma situação parecida vem ganhando repercussão aqui no estado: em Londrina, o candidato a prefeito pelo PSOL, Paulo Silva, vem sendo atacado em redes sociais por sua aparência.

Tudo começou quando, após uma entrevista de Paulo em blogs da cidade, o deputado federal Paulo E. Martins (PSDB-PR) postou uma foto do candidato do PSOL sem camisa e com um boné de aba reta com uma folha de maconha. A partir daí, diversos perfis na internet começaram a atacar Paulo Silva. Em poucos dias, o caso acabou ganhando repercussão, com noticias sobre o tema nos principais meios políticos da cidade.

Além de outros preconceitos (como em relação a idade, por exemplo), aqui temos um caso clássico de racismo, ainda que alguns insistam em dizer o contrário. Isso porque Paulo Silva tem sido deslegitimado por ter cara de office boy, por não ter jeito de Prefeito, entre outros absurdos. Os que atacam Paulo consideram inaceitável que um jovem negro e morador da periferia seja candidato, a prefeito, da terceira maior cidade do sul do país.

Outro ponto que chamou atenção: porque apenas as fotos de Paulo foram pesquisadas na internet até que fosse achado alguma que fosse comprometedora? A repercussão seria a mesma se um político já conhecido fosse fotografado consumindo álcool, a droga que mais causa mortes no Brasil?

Não é fácil ser jovem e candidato a um cargo no Executivo. Por muitas vezes, somos perguntados sobre nossa experiência e capacidade de governar. Esse questionamento esconde duas visões erradas: a de que alguém governa sozinho e a de que é preciso fazer carreirismo político para então poder governar. E o que temos visto, no Brasil, é justamente o contrário, pois os políticos experientes tem se mostrado péssimos governantes.

A cada dia que passa, fica mais óbvio que a política brasileira só vai ser transformada, para melhor, quando for ocupada pela maioria da população. Quando movimentos como as marchas de junho de 2013 se tornarem constantes. Mas, como fazer isso, se os jovens que se dispõe a se candidatar são brutalmente atacados? Como convidar mais jovens da periferia a ocupar política desta forma?

E é justamente aqui que eu queria chegar. Na minha visão, é exatamente por isso que o jovem candidato tem sido tão atacado. Para evitar que a política londrinense, tão marcada por escândalos e por afastamentos e prisões dos experientes chefes do Executivo, seja ocupada por mais Paulos e por mais Silvas.

O que parece é que este é o caminho sem volta. A população periférica parece não suportar mais ser representada por gente que não vive a sua realidade. Por isso vem ocupando a política. Incomodando. Faço votos que continuem assim.