downloadJulho de 2011. Enquanto os técnico-administrativos das Universidades Federais encontravam-se em greve há mais de 30 dias, acontecia em Goiânia mais um Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), reunindo cerca de 10.000 estudantes. Num mar de despolitização, os estudantes ligados a Oposição de Esquerda, aqueles que não fogem da raia e não vão pelo caminho fácil, tentavam construir espaços de diálogo com estudantes de todo os país. Eu estava lá, de novo, agora como convidado para ser um dos palestrantes na mesa de debates com o tema saúde.

O convite, claro, foi motivo de satisfação. Já havia falado em outros espaços da UNE, como no CONEB e no CONUNE de 2009, mas nunca como um convidado oficial. Imaginei que teria dificuldades para conseguir passagem para Goiânia e outros direitos, mas tudo correu certo. Uma agência de viagens, que não diferenciava palestrantes convidados pela corrente majoritária da UNE ou pela Oposição de Esquerda, agendou as passagens, sendo bastante gentil, até remarcando a passagem da volta.

Quando cheguei no aeroporto de Goiânia, já ia ligando para um colega da cidade que poderia me buscar no aeroporto, quando vi um moço com uma plaquinha escrita CONGRESSO DA UNE e logo fui procurá-lo. Vi que tinha direito a ir de Van até o local do congresso. No veículo, gente de tudo que é entidade, algumas de representatividade duvidosa. Chegando na praça que fica entre a UFG e a PUC-GO, local do Congresso, fui direcionado para a “sala VIP” do Congresso. Lá dentro havia uma boa estrutura e muita gente de terno, mostrando que a burocracia estatal é hoje, infelizmente, maioria nas mesas de palestra do maior encontro estudantil do país.

Depois de cumprimentar o camarada Luiz Araújo (que também estava entre os convidados e não estava na turma dos “de terno”) resolvi ir atrás dos camaradas estudantes. Desci até a praça, encontrei as bancadas da Oposição de Esquerda, velhos e novos conhecidos. Também por lá estavam alguns colegas do CNG (Comando Nacional de Greve) da FASUBRA, como Fabiana, Cavalo, Luiz Antônio, entre outros (nosso CNG buscava divulgar a greve entre os estudantes, solicitando apoio e participação no movimento).

Na hora do almoço, voltei à sala VIP. A turma de terno continuava lá, agora reforçada com deputados e ministros. Fomos levados a um restaurante. Coisa boa. Lá também estavam algumas pessoas que estariam na mesa da qual iria participar. Fiquei lá tentando “mapear” os posicionamentos de cada um, mas não foi fácil. Mas foi voltando à sala VIP que a coisa foi ficando divertida…

Lá estava o Dr. Bactéria, aquele senhor que defende políticas higienistas de saúde em programas de TV. Ele também iria participar da mesa, mas não estava entendendo bem aonde estava. Durante a mesa em si, algumas falas bastante governamentais, dos representantes do Ministério da Saúde e do representante da UNE no Conselho Nacional de Saúde. Procurei mostrar as contradições do governo. Já o “amigo” Dr. Bactéria fez sua palestra técnica, com uns slides com dados e soluções “mágicas” para a saúde. Ainda contamos novamente com a presença do CNG/FASUBRA no espaço, com uma bonita manifestação contra a privatização dos Hospitais Universitários através da EBSERH.

Na horas das perguntas, foi aquele cenário tradicional de espaços da UNE: perguntas seguidas de manifestações das bancadas presentes ao debate. Numa dessas horas, Dr. Bactéria me olhou e falou: “o que está acontecendo?” Expliquei que haviam teses diferentes ao Congresso, que avaliavam a atual direção da UNE de maneira diferente, etc. E que cada palestrante havia sido indicado por uma dessas posições para compor a mesa. E, nesta hora, Dr. Bactéria me olhou bem sério e perguntou: “e eu, fui indicado por qual grupo?”

Pensei, pensei, pensei… E a única resposta que pude dar foi: “alguns que estão aqui indicados por seu notório saber, sem precisar de força nenhuma para ser indicada”!