Estações-tubo são quentes no verão e congelantes no inverno

Estações-tubo são quentes no verão e congelantes no inverno

Em 2011, uma notícia causou indignação em Curitiba: cobradores e motoristas de ônibus da cidade foram multados por usarem cobertores em seu local de trabalho. A situação se mostrou tão constrangedora que o a prefeitura emitiu nota cancelando as multas e dizendo que ninguém poderia ser punido por “passar frio”.

Em 2012, o problema se repetiu. Na época, os trabalhadores do transporte afirmavam URBS (empresa pública responsável pelo transporte em Curitiba) exigia o uso do uniforme e não admitia acessórios extras ou roupas coloridas. A partir daí, ficou combinado que as empresas forneceriam um “kit frio” para os trabalhadores, garantindo o mínimo de condições de trabalho.

Para além de fotos bonitas sobre a neve, a recente semana de frio intenso em Curitiba mostrou que esta situação de extremo desrespeito à dignidade humana persiste na cidade. Apenas 10% dos trabalhadores receberam o “kit frio” (manta, pulôver, luvas, touca e jaqueta) até o prazo dado pela Prefeitura (26 de julho). Vale registro que a semana de frio mais intenso foi entre 22 e 26 de julho, ou seja, antes do prazo final.

Por terem descumprido o prazo, as empresas terão de devolver R$360 mil para a Prefeitura. O que se percebe então é que o “kit frio” era pago pela Prefeitura e não pelas empresas de ônibus. Se dúvidas, mais um privilégio para os empresários do transporte, visto que as leis trabalhistas já exigem que são as empresas que devem arcar com os EPI’s (equipamentos de proteção individual).

Durante este processo, a Prefeitura divulgou nota nas redes sociais, permitindo que os motoristas e cobradores usassem outros tipos de roupa para suportar o frio. Um leitor desatento poderia achar que esta declaração era do século XIX.

Essa situação de descaso completo com os trabalhadores do transporte coletivo da cidade contrasta com o choramingo que os donos de empresas de ônibus tem feito na CPI dos Transportes da Câmara Municipal. Em alguns depoimentos, tiveram a “cara de pau” de afirmar que não tem lucros com as empresas. Esta afirmação soou como ridícula, visto que nenhum grupo de empresários mantém por tanto suas empresas em um ramo de atuação caso estas estejam trazendo prejuízo.

Enquanto os trabalhadores passam frio e são multados por isso, os empresários vão à uma CPI reclamar da sua “falta de lucratividade”.

O transporte coletivo mostra-se, então, como mais um símbolo de desigualdade da cidade de Curitiba. Vai se juntar às calçadas de granito do Batel, aos 60.000 imóveis vazios e à imensa população de rua.