Warning: A non-numeric value encountered in /var/www/html/wp-content/themes/divi/functions.php on line 5806

Roda de samba na frente da Casa Amarela

“O dia em que o morro descer e não for carnaval 
ninguém vai ficar pra assistir o desfile final 
na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu 
vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil”

(Paulo César Pinheiro e Wilson das Neves)

As eleições de 2012 no Rio de Janeiro colocaram em debate um tema que estava esquecido, em termos políticos, há muitos anos: o carnaval e o desfile das escolas de samba, um dos principais acontecimentos daquela cidade. Em Curitiba, o carnaval da cidade também ganhou espaço na esfera política, depois que o pré-carnaval no Largo da Ordem foi barbaramente reprimido pela Polícia Militar em janeiro de 2012. Esse é um momento de reaproximação de duas coisas que nunca deveriam ter se afastado: o samba e a política.

Que tal entendermos um pouco mais dessa história?

Desde que começou a surgir, no início do Século XX, na área compreendida entre a região portuária e o bairro do Estácio no Rio de Janeiro, o samba foi um espaço de resistência e da afirmação de uma cultura até então desconsiderada pelas elites e pelo poder público. Os “donos da cidade”, os poderosos, não olharam passivamente esta manifestação cultural que reunia trabalhadores, ex-escravos, pobres, moradores do morro. Temiam que o samba fosse o início de outras reivindicações: “imagina se eles se organizam e passam a atuar em outras esferas”, diziam os mais informados. E foi isso que aconteceu, destacando o acontecimento de 1933, quando a escola de samba Azul-e-Branco do Salgueiro funcionou como uma associação de moradores para resistir ao despejo de 7.000 famílias do morro do Salgueiro.

Por esses e outros motivos que o poder público buscou sempre cooptar as manifestações culturais que geravam espaços de resistência, como as rodas de samba, tão comuns no começo do Século XX. Mas a turma do samba, resistindo, fazia de conta que não via esta tentativa: em novembro de 1946, a entidade que reunia as grandes escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro organizou um desfile extra com sambas temáticos em homenagem a Luis Carlos Prestes, líder do PCB (Partido Comunista Brasileiro) na época; em 1947, essa mesma entidade foi fundamental para que o PCB elegesse a maior bancada da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, então capital do Brasil.

Chora cavaco!

O encontro do samba e da política mostrava-se então um perigo para as elites políticas e econômicas. Esta turma do “lado de lá” tratou de criar meios para inibir a influência da esquerda no samba, chegando ao ponto de criar uma associação de escolas de samba fantasma para tentar minar a relação entre as grandes escolas e o PCB. A partir daí, o que temos visto é cada vez mais a mercantilização do carnaval, afastando este do seu verdadeiro público, que trabalha o ano todo, na confecção das fantasias, no ensaio da bateria, vendendo cerveja pra financiar a escola, mas assiste o desfile em casa, na TV, porque o ingresso do desfile é para “inglês ver (e comprar)”.

Para mim, esse encontro, do samba com a política, sempre foi óbvio. Cresci ouvindo sambas-enredo e fui aprendendo sobre a história do Brasil a partir deles. Sem eles, provavelmente não teria me interessado por política, por história, pelas questões sociais brasileiras. Foi com os sambas-enredo que aprendi que os negros haviam sido escravizados, que os índios foram exterminados pelos portugueses, que a Família Real chegou ao Brasil em 1808.

E esse encontro, proposto pelo samba de Paulo César Pinheiro e Wilson das Neves, é fundamental. No Rio de Janeiro, o candidato do PSOL a prefeito, Marcelo Freixo, tem colocado o dedo na ferida acerca da acentuada mercantilização e privatização do carnaval. Em seu manifesto “Nossa avenida vai além do carnaval”, Freixo defende a volta dos enredos com caráter cultural e histórico, a democratização do acesso a Sapucaí e o fim do controle do carnaval pela LIESA, uma entidade privada sem compromisso com a verdadeira cultura.

O debate sobre o carnaval é, no fundo, um debate sobre a quem serve a cidade. Ela serve para ser um espaço de convivência entre as pessoas? Ou serve para ser um espaço apenas focado no lucro de grandes empresas e em grandes negócios? Como já colocado acima, não é só no Rio de Janeiro que este debate é necessário.

Em Curitiba, o começo do ano de 2012 começou com uma ação desastrosa da Polícia Militar: repressão ao pré-carnaval organizado pelo bloco Garibaldis & Sacis que acontece no Largo da Ordem. Numa linda tarde de domingo quando milhares de pessoas se divertiam de forma gratuita, o que se viu como resposta foram tiros, cassetetes, sirenes. No episódio, não houve nenhuma palavra de reprovação por parte da Prefeitura e/ou da secretaria de cultura, fundação cultural, etc.  É preciso que isso seja tratado de maneira política e não como um “erro eventual” do comandante da PM.

E o encontro do samba com a política tem um grande potencial. Aliar o caldo cultural de resistência das esquerdas com o poder de síntese e aglutinação do samba é fundamental para transformar esta realidade caótica e desigual em que vivemos.


Fatal error: Uncaught wfWAFStorageFileException: Unable to verify temporary file contents for atomic writing. in /var/www/html/wp-content/plugins/wordfence/vendor/wordfence/wf-waf/src/lib/storage/file.php:51 Stack trace: #0 /var/www/html/wp-content/plugins/wordfence/vendor/wordfence/wf-waf/src/lib/storage/file.php(658): wfWAFStorageFile::atomicFilePutContents('/var/www/html/w...', '<?php exit('Acc...') #1 [internal function]: wfWAFStorageFile->saveConfig('livewaf') #2 {main} thrown in /var/www/html/wp-content/plugins/wordfence/vendor/wordfence/wf-waf/src/lib/storage/file.php on line 51