“Campanha sem estrutura é muito difícil. Quando fui candidato eu tive apenas o apoio de 2 kombis que o Vanhoni arranjou pra mim e uma moça liberada num escritório, que fazia a agenda” Fala de um ex-candidato a vereador do PT em Curitiba
No domingo, enquanto visitava, junto com outros colegas do PSOL, locais de votação no centro da cidade, encontrei um ex-candidato a vereador do PT em Curitiba. Numa conversa bastante simpática, ele falou a frase acima. Depois que nos despedimos dele, fiquei pensando sobre a descrição do que é “falta de estrutura” para um candidato, a vereador, de um grande partido como o PT.
A conclusão a que cheguei é que nós do PSOL somos heróis. Mesmo sem estrutura e com uma coordenação de campanha com apenas um militante semi-profissionalizado, as campanhas do PSOL em Curitiba conseguiram a proeza de estar nas ruas durante todos os dias em agosto, setembro e outubro, de ter jingles compostos e gravados, muitos deles pela própria militância, e de ter programas de TV bastante elogiados, sendo o único a ter janela de LIBRAS. Ressalto ainda que boa parte do roteiro, pesquisa e concepção dos programas de TV foram feitas de maneira militante, em discussões coletivas que por vezes avançaram madrugada adentro.
Mas o TRE não divulga candidatos eleitos fazendo uma proporção entre “estrutura de campanha x votos obtidos”. O número de votos mínimo para eleger um vereador ou para ter uma boa votação a prefeito é comum a todos. Por isso, é necessário que o PSOL avance na sua estruturação para os próximos anos. Não apenas com o objetivo eleitoral, obviamente. Ter uma maior estrutura do partido significa disputar de maneira real a sociedade, com aparição regular nas ruas, opinando sobre os temas políticos da cidade e do estado.
Nestas eleições, vários passos já foram dados em Curitiba: carros com caixas de som, som portátil com microfone, cartazes e materiais de divulgação, aluguel de uma sede em local público e de grande circulação. Esses avanços estruturais obtidos por conta da eleição (momento que muitos simpatizantes e apoiadores se dispõem a contribuir financeiramente para o partido) irão continuar e com certeza ajudarão para a construção de ações dos movimentos sociais e populares.
Mas ainda temos algumas lacunas. A principal delas se refere às últimas 48 horas de campanha. Em 2006, 2008 e 2010, nossas campanhas eram paralisadas nas duas últimas semanas por conta do estafa físico da maior parte dos militantes. Em 2012 nós já conseguimos superar isso: muita campanha nas duas últimas semanas, com peso nas ruas, cavaletes, o que deu a impressão, a todos, de que poderíamos eleger um vereador na cidade. Mas as últimas 48 horas foram decisivas e o partido não sobreviveu eleitoralmente a “avalanche pró-Fruet”, que cresceu muito, principalmente após a divulgação da pesquisa Datafolha no sábado a noite.
Mas é inegável dizer que o PSOL foi um dos partidos que mais cresceu em 2012. Em várias cidades, como Porto Alegre, Salvador, Niterói, Campinas, Belém, Florianópolis e Fortaleza, os candidatos a vereador do PSOL estiveram entre os mais votados da cidade. Além disso, foram eleitos vereadores em São Paulo, Rio de Janeiro, Natal e outras cidades menores.
Com exceção de Natal, que teve um fenômeno eleitoral capitalizado por Amanda Gurgel, candidata a vereadora do PSTU que foi a mais votada da cidade e acabou por “carregar” dois candidatos do PSOL (os dois partido compunham a Frente Ampla de Esquerda), todas as outras cidades onde o PSOL foi bem na votação pra prefeito e vereador carregam uma semelhança: são cidades onde o partido já tinha uma estrutura anterior, seja por ter sido fundado por grupos que saíram do PT ou por parlamentares ou ainda ex-parlamentares.
Em Curitiba essa situação não se repetiu. Aqui o partido foi criado por um pequeno grupo de estudantes da UFPR e alguns militantes de sindicatos pequenos, nada além disso. Um ano após a fundação, quase metade do grupo original já havia saído do partido e hoje pouquíssimos estão ainda na construção efetiva do partido (tenho orgulho de ter sido fundador e de estar desde o começo na construção real do PSOL). Até o começo de 2008, o partido não tinha uma instância municipal de atuação, visto que os militantes de Curitiba também cumpriam tarefas estaduais e até nacionais. Após as eleições de 2008, o partido começou a ter uma cara municipal, com uma sede, debates sobre o município e outras ações. Hoje o partido tem uma teoria sobre a cidade, sobre o planejamento da cidade, o mito da cidade-modelo, etc. Nos principais acontecimentos políticos da cidade dos últimos 4 anos o PSOL estava presente, em alguns momentos como protagonista. Nas eleições de 2012, duplicamos nossa votação para prefeito e fizemos 2,5 vezes mais votos para os vereadores, chegando a 42% do coeficiente eleitoral.
Pelo exposto acima, afirmo que o desempenho eleitoral do PSOL em Curitiba não pode ser comparado com Salvador, Natal, Belém, Rio de Janeiro e outras cidades nas quais o PSOL elegeu vereadores. Nosso desempenho eleitoral e nossa inserção social deve sim ser comparada com cidades como Cuiabá, Palmas, Campo Grande, Manaus e outras capitais onde a intervenção do partido é muito frágil e sua construção social quase nula.
Com uma estruturação melhor, o PSOL Curitiba pode alçar vôos ainda maiores. Eleger um vereador com o perfil de nosso partido em 2016 seria uma demonstração de força importante e uma mudança significativa para a Câmara Municipal de Curitiba, famosa por seu clientelismo e conservadorismo. Esse projeto merece atenção maior da direção nacional, merece valorização. Merece uma atenção no campo político e estrutural, com a visita de figuras públicas nacionais na cidade, por exemplo.
Em Curitiba, o PSOL é estruturado por uma Executiva Municipal, composta por 5 membros eleitos em Congresso e por um Diretório Municipal, composto por esta Executiva e mais um representante de cada núcleo de base existente na cidade, desde que tenha feito reunião pelo menos uma vez nos últimos 3 meses. Entre os núcleos, destaco o Núcleo de Movimento Popular, responsável, entre outras coisas, por atuar em áreas com conflito fundiário em São José dos Pinhais, Pinhais e Piraquara (cidades da Região Metropolitana) e por construir o Movimento Popular por Moradia – MPM – que, neste momento, organiza a ocupação Nova Primavera, com mais de 400 barracos.
Nestas eleições, muitos se aproximara e/ou simpatizaram com o partido na cidade. Já durante a eleição, foi feita uma grande atividade de filiação, com a presença de um membro do Diretório Nacional. Esta campanha de crescimento orgânico vai continuar. É importante que todos aqueles que gostam do PSOL venham para o partido, contribuindo para sua construção cotidiana, mesmo que de maneira singela.
Vale lembrar que no ano que vem haverá Congresso do PSOL e os filiados poderão votar sobre os rumos do partido, como o candidato a presidente em 2014. Em novembro, realizaremos uma atividade de apresentação do partido em Curitiba, com filiações de novos militantes. Queremos contar com todos e todas aqueles que simpatizaram com nossa campanha e que acreditam na construção de uma política diferente no Brasil, orientada por um ideal socialista. Vir para o PSOL, sem medo de ser feliz, sem medo de estar num partido onde “cúpulas comandam a base” (sempre lembro que o PSOL é o único partido em que a base derrotou a posição de sua presidente nacional), é uma tarefa fundamental para o próximo período.
Viva a construção do PSOL nos municípios!
Viva o Partido Socialismo e Liberdade!